terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Juvenal, a loirinha, uma oportunidade e o Johnny


Dizem que cavalo encilhado não passa duas vezes. Enfim, não se deixa passar uma boa oportunidade. 
E isso era tudo o que Juvenal precisava.

Ele havia se apaixonado por uma colega de classe. Sonhador, apaixonado e muito tímido. Ela era loirinha, de olhos azuis; linda. O tempo passou, eles se formaram e Juvenal não a viu mais. Dois anos se passaram e a saudade só aumentava. Juvenal se perguntava: “Será que vou reencontra-la um dia?”. Ele tinha 17 e ela 16.

Certo dia Juvenal sonhava acordado dentro do ônibus a caminho do Centro de Florianópolis. Ao abrir os olhos vê a loirinha. O coração dispara. A boca fica seca. Os olhos marejantes. Que loucura, a 
loirinha que não via há dois anos. Daniela estava lá, mais bonita ainda, mas não havia visto Juvenal.

Ela também saltou no Centro de Florianópolis. Juvenal chegou ao trabalho e contou a um amigo o que havia acontecido. Cleber ficou perplexo em saber que Juvenal não havia falado com ela, nem sequer tentado.

Chegando em casa a noite, Juvenal foi recepcionado pelo grande e fiel amigo, Johnny. Com ele Juvenal falava a vontade. Não havia timidez nem segredos. O pequeno cachorrinho há três anos era seu parceiro. O apego de Johnny por Juvenal era tão grande que era comum ele segui-lo pelas ruas ou aonde quer que Juvenal fosse.

Juvenal por sua timidez, quem sabe orgulho, ficava envergonhado quando era seguido por Johnny.

Uma noite Juvenal pensou em como poderia aproximar-se da loirinha. Havia várias semanas que pegavam o ônibus juntos e ela ainda não o havia visto. Ele preparou-se e ensaiou algumas palavras. 

Faria de conta que era a primeira vez que a via. Pensou até em jogar um charme, não sabia como, mas pretendia.

Numa bela manhã Juvenal estava prestes a entrar no ônibus no ponto final do bairro Bela Vista, em São José. Ele embarcou e a loirinha dois pontos depois. A principio ele fez de conta que não tinha a visto. Ela estava linda. Os cabelos loiros e ondulados, os olhos azuis com suave brilho e um vestido preto que a tornava ainda mais especial.

Juvenal lembrou tudo o que havia treinado. Respirou fundo e foi em direção ao cobrador. Assim que paga a passagem o cobrador diz a Juvenal:

- Ei amigo. O teu cachorro entrou no ônibus.

Juvenal olha para Johnny, engole a saliva, respira fundo e diz ao cobrador:

- Não, o cachorro não é meu não! O cobrador pede desculpas. Juvenal por um instante esquece o cachorro e vai em direção à loirinha. Quando está bem perto dela e prepara-se para abrir a boca é interrompido pelo cobrador que diz em voz alta:

- O meu amigo, o cachorro é teu sim. Está bem atrás de ti e abanando o rabo.

O ônibus está quase lotado. Todos olham e a maioria dá risadas. A cena era simplesmente hilária. 

Juvenal por mais que gostasse do fiel amigo tem vontade de jogá-lo pela janela.

O motorista para o ônibus e diz educadamente a Juvenal que ele pode colocar o cachorrinho para fora e ressalta que pode fazer isso com calma, ele aguardaria.

Eram poucos passos, mas para Juvenal era como se estivesse indo em direção à forca.
Johnny não teria problemas em voltar para casa. Isso deixava Juvenal mais tranquilo. O problema seria voltar ao ônibus, encarar as pessoas, especialmente a loirinha. Ele entra com rosto como que pegando fogo e o coração disparado. Não lembra mais o que havia treinado para dizer a sua amada. 

Juvenal firma as mãos na barra do ônibus e sente-se destruído. Ele é surpreendido pela loirinha que aproxima seu rosto ao dele. O perfume dela traz todas as lembranças de quando ela passava por ele na sala da aula durante anos. A loirinha aproxima sua boca ao ouvido de Juvenal e diz de maneira delicada:

- Seu cachorrinho é lindo!

Juvenal viaja em seus pensamentos. O cheiro, a voz, a presença dela. Ela havia tomado a iniciativa em falar. Chegam ao Centro de Florianópolis e ele não a vê. Quando chega ao trabalho conta o que aconteceu ao amigo, Cleber. Fala da vergonha que havia passado com o Johnny. Cleber vê o lado positivo e lembra o mais importante, ela havia falado com Juvenal.

Os dias seguiram. O mesmo horário. Muitas vezes o mesmo motorista e passageiros, mas nunca mais voltou a ver a loirinha, não teve notícias dela.

A caminho de casa pensava na oportunidade perdida. Quando chega e abre o portão é recebido por 
Johnny com lambidas, rabinho abanando e muita alegria. Ele sempre estava ali e aproveitava todas as oportunidades!



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Spotlight - Segredos Revelados


Sabemos que a pedofilia é praticada de maneira geral por pessoas próximas. Crianças, adolescentes e pais são persuadidos a confiar nos pedófilos como se fossem pessoas acima de qualquer suspeita.

Pais, padrastos, tios, avós, amigos da família estão entre aqueles que molestam crianças causando traumas terríveis.

Cabe o ditado: “Seguro morreu de velho”. Não quer dizer desconfiar de todos, mas ao mesmo tempo não confiar demais, principalmente quando o risco é a pedofilia.

“Ah, ele ou ela jamais seria capaz de fazer isso, ponho minha mão no fogo”. Então saiba que as possibilidades de se queimar são reais e consideráveis.

O perigo também se esconde atrás de títulos de “santidade”.

O filme – Spotlight – Segredos Revelados, baseado em fatos reais, conta a história de um grupo de jornalistas do The Boston Globe que investigou, descobriu, se apavorou e publicou um artigo sobre padres pedófilos.

Na ocasião, por volta de 2001, havia pelo menos 87 padres que haviam molestado crianças; detalhe: 87 só na cidade de Boston.

Há pesquisas que segundo o filme apontam que até 6% dos padres poderiam estar envolvidos em pedofilia.

Em especial crianças de famílias carentes e pouca estrutura, dizem que veem o líder religioso como se fosse “Deus”.

“Um dia ele pede para a criança recolher o lixo. Depois conversa mais. Um dia conta uma piada obscena (agora eles têm um segredo), e por fim mostra uma revista pornográfica” (Relato de uma das vítimas no filme).

Tudo termina, ou começa, quando “o padre tira a roupa e pede para o menino o masturbar e fazer sexo oral nele”. (Continuação do relato)

Quando acontece com meninos que são ou acreditam ser homossexuais tudo parece diferente; afinal de contas eles sentem que “deus” entende e aceita sua situação. (Também relatos do filme)

O filme – Spotlight – Segredos Revelados - deve ser mais anunciado, divulgado, assistido e discutido.

Concluir que isso acontece apenas em outros países é ingenuidade.

Pensar que isso só acontece “lá longe” é fechar os olhos a uma terrível e devastadora realidade.

Quando os abusos são cometidos por lideres religiosos à coisa é agravada por vários motivos.

Primeiro: Estão entre aqueles que parecem estar – acima de qualquer suspeita.

Segundo: O medo de denunciar um “homem de Deus”.

Terceiro: A maneira como a igreja por tantas vezes oculta, esconde, transfere o padre pedófilo para outra paróquia. Já molestou aqui, ficará conhecido. Quem sabe numa cidade onde ninguém saiba. E se abusar lá se transfere outra vez...

Pais precisam alertar e conversar com os filhos. Alguns falam besteiras e contam piadas sobre sexo com amigos, mas não são capazes de ter uma conversa respeitosa, porém aberta com filhos e filhas, os alertando contra os pedófilos. Dizer o que fazer e para quem contar. Que pode ser o vovô, o papai, a mamãe, o titio, o padrasto, o melhor amigo dos pais e até um “homem de deus”.

A denuncia pode não resolver por completo, mas dará a oportunidade de se fazer justiça e talvez impedir que outras crianças venham a ser molestadas.

E a imprensa? Parabéns a imprensa. Parabéns aos jornalistas que investigam e publicam.
Jornalismo é isso, abrir temas importantes. Falar o que não parece conveniente e o que alguns não desejam ouvir.

Imparcialidade é importante sempre. Não podemos deduzir que a maioria dos lideres religiosos são pedófilos, mas o número é assustador. Mais assustador ainda é saber que os que têm poder para denunciar e punir por tantas vezes apenas encobrem.

Dizem que segredo deixa de ser segredo quando revelado.

Há segredos importantes a serem guardados e outros não.

Pedofilia, pessoas próximas e principalmente, “homens de deus” devem ser monitorados, descobertos, julgados e condenados (não transferidos como tem acontecido).

Quando conversar com uma pessoa religiosa pergunte a ela como sua igreja trata ou lida com casos assim.

Nosso papel na imprensa é dar notícias e informações. No filme Spotlight quando um líder religioso disse que é importante que a imprensa trabalhe em conjunto com instituições, ouve do editor: “Em minha opinião é melhor que a imprensa trabalhe de maneira independente”.

Pedofilia, pais e imprensa. Denunciar, divulgar e proteger. Caso contrário só haverá as lágrimas e os traumas das incontáveis vítimas desses terríveis abusos – guardadas em segredo!



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Maria Mole


Esse doce fez parte da infância de muitos de nós. Mas houve uma que serviu como importante lição de sabedoria.

Lembramos a frase: “Difícil não é ser bom, o desafio é ser justo”.

Quando falamos em justiça podemos lembrar a palavra - sabedoria.

A palavra sabedoria é muitas vezes mal interpretada. Confunde-se com a palavra inteligência. 

Quando estudamos a fundo essas palavras notamos que há inteligentes que não demonstram sabedoria e raramente há um sábio que não seja inteligente. Por quê? Conhecimentos nos deixam inteligentes e inteligentes buscam mais conhecimentos; isso produz pessoas que fazem a diferença na sociedade. Mas, e os sábios?

Muitas vezes se fala na “sabedoria popular”, no “conhecimento dos antigos”. Vamos juntos a duas breves histórias sobre sabedoria.

Duas mulheres pedem aos prantos uma audiência com um rei. As duas são mães. Uma tem nos braços um filho morto e outra um filho vivo. A que está com o filho morto diz que o bebê vivo é seu. Diz que assim que o viu ao acordar percebeu que não era o seu filho.

Um dos bebês morrera durante a noite e poderia ter havido uma proposital troca dos bebês.

O rei, depois de ouvir as queixas das duas mães faz uma reflexão em alta voz:

Esta diz: “O meu filho é o que está vivo, o morto é o dela. A outra diz, não, o meu filho é o que está vivo, o seu está morto”. O rei diz: “Tragam uma espada e cortem a criança ao meio e deem metade a cada uma”.

A mulher cujo filho era o vivo, movida por compaixão, disse: “Não façam isso, por favor. Não tirem a vida da criança, que fique com ela”. A outra mulher fala: “Cortem mesmo, não será nem meu nem dela. O rei disse com convicção: “Entreguem o bebê a primeira mulher”. Ela é a mãe verdadeira, pois jamais deixaria que matassem seu filho”. A história ocorreu há milhares de anos e correu o mundo. A sabedoria de Salomão. Sabedoria segundo a Bíblia dada por Deus. O relato mostra que quando 

Salomão iria se tornar rei poderia pedir qualquer coisa a Deus. Em vez de glória, poder ou bens materiais ele pediu sabedoria para cuidar bem do povo.

E a Maria mole? Ouvindo nosso querido comunicador, Mário Motta, em seu programa na CBN, eu e todos os seus ouvintes fomos agraciados por essa breve e sábia história real.

Mário contou o que seu pai, o saudoso, Motinha fazia para ensinar justiça, sabedoria e bom senso para ele e seu irmão, Gilberto, usando uma Maria mole.

Cabia ao irmão do Mário, Gilberto, cortar o doce ao meio. Tinha que ser justo e cauteloso ao cortar a 

Maria mole. Por quê? Seu Motinha dizia que Gilberto cortaria o doce e o Mário escolheria seu pedaço. Que lição de sabedoria prática. Valores incutidos na infância podem permanecer para sempre construindo homens e mulheres éticos. Não é por acaso que o Mário me disse numa entrevista: 

“Crescer é ficar maior; evoluir é ficar melhor”. Seu Motinha tinha e ensinava sabedoria.

É bom ouvir e contar histórias assim. Mas podemos adquirir sabedoria. Como? Através dos nossos conhecimentos procurarmos ser pessoas decentes, honestas, éticas, justas; dar exemplo digno de ser seguido. Em momentos difíceis não ver apenas o nosso lado. Entender que às vezes tanto nós quanto aqueles a quem amamos estão errados. Isso envolve ser imparciais, não “botar a mão na cabeça” só porque se trata de nosso filho, nosso interesse, nossa vantagem. Sabedoria se conquista com atenta observação, meditação e também com estudos.

E como se identifica um sábio? Uma maneira fácil de identificar um sábio é por sua modéstia e humildade, duas qualidades diferentes e importantes. O sábio jamais se julga sábio por ser humilde e reconhece que não pode fazer tudo porque é modesto; por isso é sábio.


Desde os tempos de Salomão e até os dias do seu Motinha podemos aprender a sabedoria. Pessoas sábias usam qualquer recurso para ensinar, do fio de uma espada a uma Maria mole, o que vale é a lição!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Transtornos mentais - Alarmante!


Não faz muito tempo alguém diria que é “frescura”, ou, simplesmente loucura.

Alguém com algum tipo de desânimo prolongado, manias ou outras dificuldades ligadas ao campo emocional poderia ouvir coisas do tipo: “Ah um tanque de roupas para lavar”, como se o problema psicológico sofrido fosse nada mais do que falta do que fazer, ou uma mente pouco ocupada. Até pessoas com muito estudo dizem isso, já ouvi.

Como se não bastasse um amigo ouviu um primo dizer a outro: “Depressão? Te levo até um lugar onde há crianças com câncer e depois tu me diz se tens depressão.”

Assisti uma entrevista de uma famosa dupla sertaneja onde um deles comentou que a pior coisa que fez foi comentar com amigos que tinha depressão e dizer como se sentia.

Os amigos, claro, na melhor das intenções, e de boas intenções o inferno está cheio, como diz um ditado, não que eu creia no inferno, mas fica clara a mensagem. Amigos mesmo bem intencionados podem dizer a coisa errada na hora errada. Os amigos do cantor diziam: “Você é famoso, rico, talentoso, as pessoas te adoram, como pode ter depressão?” Ele completou dizendo que a pior coisa é confidenciar isso a alguns amigos. Na intenção de ajudar pioram a situação. Nem todos, é claro!

Para saber se é “frescura” ou “manha”, só um profissional para dizer. Um psicólogo, psiquiatra ou neurologista. E a lista dos transtornos mentais é grande.

Depressão, bipolaridade, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), déficit de atenção e ou hiperatividade (TDAH) e síndrome do pensamento acelerado (SPA). Há outros, com certeza.

Transtornos mentais são definidos por profissionais da área como uma disfunção significativa no pensamento, controle emocional e comportamento.

O Dr. Augusto Cury em um de seus livros fala sobre situações em que muitos pensam que crianças são hiperativas quando na verdade têm SPA, síndrome do pensamento acelerado. Ou seja, crianças hoje são expostas a excesso de informação e atividades. Diz que uma criança de 7 anos hoje tem mais informação do que um imperador romano no auge de Roma.

Fico pensando por que alguns pais exigem tanto dos filhos. Até que ponto é importante?

Pelo menos quando virmos um amigo ou parente com aparente dificuldade emocional que tal dar atenção especial? Com certeza não cabe a nós dizer se é doença ou “frescura”. O que se sabe é que os transtornos mentais tiram a paz e a qualidade de vida de muitas pessoas. Além de dificuldades no trabalho, escola, casamento e demais relacionamentos. Sem esquecer que familiares também sofrem. 

Quando não tratados corretamente podem levar ao vício em drogas, álcool e até ao suicídio. Nos últimos tempos tenho ouvido e lido sobre o assunto. A “cadeira do barbeiro” tem revelado pessoas que jamais imaginava passar por esses transtornos. São mais comuns do que podemos imaginar. 

Homens, mulheres, jovens de todas as idades e com diferentes condições financeiras e culturais. Para dar a palavra final, só um profissional. Então, na dúvida, vamos procurá-lo.

A Organização Mundial de Saúde, (OMS) reconhece esses transtornos como reais.

Saber que um tratamento adequado pode melhorar a qualidade de vida dos que sofrem é um importante incentivo a procurar ajuda. 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A viúva


Alberto nunca foi bom com as palavras. Não era incomum olhar para uma mulher com uma barriguinha um pouco evidente e perguntar:

- Está de quantos meses? É menino ou menina?

- Não estou grávida!

Os foras não paravam por aí:

- Oi Ana. Esse é o teu filho mais velho?

- É meu namorado!

Ao andar com um amigo na rua viu uma senhora e disse:

- Olha lá, Rogério. A vovó vai atravessar a rua sozinha. Coitada.

- É a minha esposa, Alberto.

Por essas e outras Alberto começou a ficar mais calado. Certo dia um amigo de trabalho, o Claudio, disse que o Mário havia morrido. Imediatamente, Alberto lembrou de seu ex vizinho, Mário. Homem trabalhador, cara divertido.

Claudio ainda salientou que Mário andava muito doente havia anos. Estava sofrendo o que chamou de inferno. Na verdade Mário foi libertado de uma agonia, uma prisão, afinal de contas, viver com dores e dependendo da ajuda dos outros, era um inferno mesmo. No fundo, sua esposa deveria ficar até aliviada.

Alberto ouviu tudo aquilo e pensou em Lígia, esposa ou agora, viúva de Mário. Queria poder consolar a pobre viúva. Mas como? O que dizer? E se falasse besteira? E em dar fora Alberto era especialista.

Por duas vezes Alberto viu Lígia e atravessou a rua só para não ter que falar do finado. Não estava pronto para o importante consolo.

Certa noite Alberto parou e pensou. Pensou que já era hora de aprender a se expressar sem falar bobagem, usar bem as palavras. Resolveu treinar sozinho, de frente para o espelho.

Imaginou Lígia. Lembrou de como Mário era e de quanto estava sofrendo. Lembrou das palavras de 

Claudio. Mário estava livre do inferno que vivia, de todo o sofrimento, da agonia, de uma rotina terrível. Pronto. Já poderia consolar a viúva e não falar besteira. Pelo menos uma vez na vida.

No dia seguinte encontrou Lígia e dessa vez não desviou. Aproximou-se, respirou fundo, e olhando em seus olhos, disse:

- Bom dia, Lígia. Estava há dias para falar contigo. Na verdade pensei muito bem no que deveria te dizer. Por favor, preste atenção a cada palavra minha e veja a sua real situação.

O Mário não merecia o que vinha passando. Um cara do bem, trabalhador, divertido. Ele estava sofrendo demais. Aquilo não era mais vida, era tortura. Imagine a frustração dele. Sua agonia e rotina. Se é que existe esse tal de inferno é o que o pobre do Mário vivia. Agora está livre e em paz.

Lígia ouviu perplexa as palavras de Alberto. Depois de balançar a cabeça olhou bem para ele e disse:

- Cachorro, sem vergonha, nojento. Você é igual ao Mário ou até pior. Aliás, vocês são todos iguais, não valem o que comem. Eu quero mais é que você vá para o inferno e mais, quero que o Mário... 

Melhor eu parar por aqui. Seu idiota!

Alberto ficara perplexo com as palavras de Lígia. Como podia ser tão dura diante palavras consoladoras. E pobre do Mário, não basta o que sofrera. Que tipo de mulher falaria assim?

No dia seguinte assim que chega ao trabalho encontra o amigo, Claudio. Ele o chama e diz:

- Claudio. Não vai acreditar no que aconteceu ontem. Encontrei a mulher do Mário e falei com ela. 

Não vai acreditar no que ela me disse.

Claudio respirou fundo e falou:

- Alberto, não dá pra esperar que ela esteja feliz e calma. Afinal de contas o que o Mário fez foi uma cachorrada sem tamanho. Uma mulher como ela, trabalhadora, linda e educada. Descobriu que o 

Mário a traia há mais de 10 anos. Várias amantes e 2 filhos fora do casamento. Gastava dinheiro até em noitadas. E pior, ele teve a cara de pau de dizer pra ela que ele vivia numa horrível rotina, numa agonia, que sofria ao seu lado, que sua vida era um inferno – Claudio continua seu desabafo:

Dá pra imaginar? A mulher descobriu que o marido é um baita safado e ainda ouve tudo isso. Pobre da Lígia.

Sem entender mais nada, Alberto perguntou:

- Claudio, tu não me disse que o Mário havia morrido?

- Sim, morreu. Mas falei do Mário da dona Soninha. O pobre estava muito mal. O Mário da Lígia é que é um safado e está bem vivo. Ainda bem que você a consolou. Afinal de contas, o que disse a ela?

- Eu? Bem, eu disse o que se diz numa situação dessas. Enfim, falei algumas coisas.


Alberto se afasta de Claudio pensando na pobre Lígia. Ele esfrega a mão na testa e fala baixinho: 

Droga. Consolei a viúva errada!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O moral e a moral - desencontros


Quando eu era criança ou adolescente, há uns 30 anos, ter faculdade, ou o curso superior não era algo tão comum, pelo menos não no meio em que eu vivia.

Lembro que alguns diziam com orgulho:

- Tenho um primo que fez faculdade! Sério?

- Minha irmã está na universidade! É mesmo?

Nos anos 90, pelo menos aqui na Grande Florianópolis, as faculdades particulares passaram a se destacar mais. Isso tornou possível que muitos conseguissem ter o curso superior. Alguns tinham a ajuda dos pais, outros ralaram para trabalhar e pagar a faculdade.

No decorrer da primeira década do século XXl vieram as faculdades a distância – online.

Cada vez mais possibilidades. Tantas que hoje não causa espanto ouvir alguém dizer que tem faculdade.

Em concursos públicos a “briga” entre pessoas com o antigo segundo grau ou ensino médio com os que têm faculdade causa discussões.

Há quem pense que deveria haver uma separação: Em concurso para nível de ensino médio os que têm curso superior não deveriam participar. E agora?

Mas com tantos avanços tecnológicos, científicos e outros, algumas questões parecem regredir. Isso parece mostrar um – contrassenso ou um paradoxo.

Se há bem mais pessoas instruídas, com boas formações acadêmicas, por que notamos uma “marcha ré” em questões de moral e bom senso?

A moral está em baixa para muitos e o moral de muitos está baixo.

A moral - se entende por questões de bom comportamento, respeito mútuo, não só no campo sexual, mas em todas as questões que regem ou deveriam reger bons costumes e respeito.

O moral - se entende como sentimento, ânimo. Muitos estão com – o moral baixo.

O estado de ânimo de muitos está um tanto doente. Notamos isso pelas frustrações que vão desde casamentos abalados, relações familiares estremecidas; e isso vai ao trabalho, nas escolas; enfim, nas próprias situações pessoais não resolvidas.

Quer ver um grupo de profissionais com agendas lotadas? Tente marcar uma hora, uma sessão com um psicólogo (terapeuta) ou com um psiquiatra. A agenda deles está mais lotada do que a de um bom pedreiro.

Com tantas mudanças no cenário cultural, social, acadêmico e cientifico, estamos presenciando algo incomum por aqui.

Quando eu era criança ou adolescente quem tivesse um lava jato era porque tinha uma melhor condição financeira.

A sujeira impregnada nas calçadas, muros e paredes era eliminada com mais facilidade com esse bendito aparelho. Alguns alugavam um lava jato ou pediam emprestado para se livrar daquilo que a simples mangueira e vassoura não resolviam.

Hoje, há uma Lava Jato que está fazendo um trabalho diferente do antigo aparelho. Os antigos aparelhos lava jato faziam desaparecer a sujeira, a atual lava jato faz justamente aparecer à sujeira.

O ponto é que houve e está havendo mudanças, tanto para pior quanto para melhor.

E o melhor é saber que quase tudo está ao nosso alcance. A educação e o conhecimento por meio de uma faculdade, universidade ou pelos próprios esforços em estudar e abrir a mente faz a vida bem diferente. Boas leituras diárias são uma vitamina poderosa para o cérebro.

Mas e aquele desencontro entre – o moral e a moral?

Parece que não tem muito haver com “grau acadêmico”. Antes, com caráter, índole, respeito, conhecimentos adquiridos e postos em prática para o bem comum. E isso vai além dos campos universitários e faculdades.

No final do dia, do ano e de tudo, restará saber se entendemos o que é ter uma boa moral.

No final do dia, do ano e de tudo nosso moral poderá estar baixo ou alto; e isso dependerá de nós mesmos proporcionarmos esse encontro.