quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Conheces o Eurico?

Eurico é um grande profissional na área da informática,, mas tem baixo autoestima.

Nunca ouvira um elogio, nem dos pais e nem dos professores; nunca um reconhecimento pelo seu talento e dedicação. Talvez tenha apenas passado despercebido por todos, mas Eurico sentia muito a falta de elogios.

Na empresa onde trabalhava a situação se repetia; nada de reconhecimento pelo trabalho.

Porquê? O que faltava? O que mais Eurico poderia fazer, haja vista que para ele havia a necessidade de receber elogios. Gary Chapman, em seu livro: As 5 linguagens do amor; acredita que - receber elogios é uma dessas 5 linguagens; poderia ser a de Eurico.

Certa noite haveria uma confraternização na empresa em que Eurico trabalhava, eram mais de 100 funcionários. Todos foram avisados de que alguns seriam homenageados.

Dois amigos de Eurico disseram a ele que com certeza seria dessa vez. Com certeza, disseram os amigos, um dos talentos da empresa seria Eurico, afinal de contas, ele havia feito ótimos trabalhos no último ano.

A tão esperada noite chega. Um delicioso jantar é preparado e chega o momento do discurso do chefe. Todos na ansiedade de ouvir os nomes dos homenageados, Eurico e os amigos em especial.

Bruno, proprietário da empresa, começa seu discurso e elogia vários funcionários. Os amigos de Eurico, dizem:
- Em poucos minutos você será chamado pelo chefe.

Sete funcionários são chamados por Bruno e recebem várias homenagens e prêmios, mas Eurico fica de fora. Os amigos o consolam; quem sabe da próxima vez. Eurico diz aos amigos que seria surpresa se fosse lembrado e elogiado. É sempre assim.

Naquela mesma noite o patrão de Eurico vai a um jantar com importantes investidores da empresa. Empresários muito bem sucedidos e ricos. Em certo momento Bruno cita o nome de Eurico. Dois dos quatro empresários aproximam o corpo da mesa e dizem que conhecem Eurico. Fazem vários elogios. Um deles, Eduardo Fonseca, diz:

- Não posso acreditar que você conseguiu contratar o Eurico Ferreira!

Bruno, espantado, pergunta o motivo da surpresa dos colegas. Eduardo, responde:

- Eurico Ferreira é o melhor na área. Tem o hábito de trabalhar por conta própria, se soubesse que aceitaria ser contratado eu o queria na minha empresa. Tens o mais talentoso, honesto e dedicado dos que trabalham com informática.

Bruno se sente desconfortável e libera um leve sorriso. No fundo sente certo remorso e constrangimento por não ter percebido o talento de Eurico, e nem de tê-lo homenageado mais cedo naquela mesma noite. Mas pensa em no dia seguinte, assim que chegar na empresa chamar Eurico e lhe fazer um elogio na frente de todos; na verdade, fica ansioso por fazer isso.

Logo cedo, quando todos já estão trabalhando, Bruno olha em volta e chama Eurico. Pede para ele se aproximar. Quer dar um elogio em bom volume para todos ouvirem.

Eurico, meio sem graça, chega perto do chefe e eles se cumprimentam. Muitos dos funcionários param para observar e ouvir o que dirá Bruno. Ele diz:

- Eurico Ferreira, ontem saí para jantar e encontrei uma pessoa que diz te conhecer muito bem. Você conhece, Eduardo Fonseca?

Eurico, sem pensar muito, responde:

- Conheço sim. É um grande mentiroso - Eurico ainda pergunta:

- Por quê? - Bruno, sem entender mais nada, coloca a mão sobre o ombro de Eurico e diz:

- Nada, não é nada. Volte ao trabalho, por favor.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Pior que é


Pior que é


Pior que é. Quantas vezes o amigo leitor ou leitora já ouviu
sa expressão?


Normalmente essa curta e estranha frase vem seguida de
algo difícil ou ruim ao qual o interlocutor concorda querendo
não concordar.

Coisas do tipo: Os times aqui da capital têm mais é que ficar
na série B mesmo. Pior que é.

Ninguém pode confiar em mais ninguém. Pior que é.

As máquinas de cartões de débito e crédito são tão úteis que
até ladrões já estão aceitando. Pior que é.

Mas a frase, e digo isso como testemunha ocular, evita até brigas
e elimina rapidamente discussões.

Meu saudoso amigo, Rona (esse era seu apelido) a usava com
muita frequência. Sempre que havia pelo menos duas pessoas
perto dele discutindo qualquer coisa; política, futebol ou religião,
quando o João dava sua opinião, o Rona dizia: “Pior que é”.

O José defendia outro ponto de vista e olhavam para o Rona que
dizia: “Pior que é”.

Pior é que o Rona não brigava com ninguém, ou quero dizer, melhor.

Alguém dirá: Então esse tal de Rona não tinha opinião própria, concordava
com todo mundo. Pior que é. Ou melhor, não sei.
O ponto é que ele sempre acreditava que os
dois ou mais pontos de vista diferentes tinham lá a sua parcela de razão e
concordava com todos ou não desprezava nenhum.

Ele tinha também a tendência ou defeito de levar tudo ao pé da letra.
Não devia conhecer metáforas. Quando meu sócio na vidraçaria
reclamava que ele perdia e desperdiçava vários pregos, eram uns 5 ou 6,
meu sócio, Lindomar, dizia ao Rona:

- O Rona. Que desperdício, mais de 100 pregos perdidos -

O Rona que não conhecia hipérboles, mas sabia contar juntava os pregos,
os mostrava ao meu sócio e dizia:

- 100 pregos? Isso aqui são 100 pregos? Tu não sabe contar.

E assim o Rona vivia de bem com todos, menos com sua sorte na vida.

O Rona teve um pai cruel, pior que é. Seu pai obrigava os filhos a trabalhar
logo que completavam uns 14 anos; se não colaborassem com as despesas
da casa, nem sequer podiam comer. E não podiam mesmo.

Um dia o Rona fora demitido por conta de fiscalizações de trabalhos de
menores; e isso foi lá por volta de 1983. Seu pai não quis ouvir justificativas.
Deu uma surra no Rona queo deixou 3 dias de cama, nem a aula ele pôde ir.

Então ele conseguiu um serviço qualquer, um que lhe desse dinheiro para
levar ao rigoroso pai.

Um dia o ingênuo Rona precisou queimar alguns objetos na empresa que
ficava perto da sua casa. Em sua inocência ou numa bobeira ainda infantil
deixou que o produto inflamável se espalhasse por suas pernas e acendeu
o fogo. Tragédia.

O fogo não poupou nada da cintura para baixo do Rona. Graves queimaduras
o deixaram com terríveis dores, incontáveis cicatrizes e um jeito de viver bastante
peculiar; passou a ser revoltado com a vida em si; sabe-se lá se não discordar de
ninguém fosse uma necessária calmaria. Nunca mais “acender ou ajudar a
acender uma fogueira que dói e deixa cicatrizes permanentes”.

A revolta com sua sorte na vida não o faziam culpar o pai. Pelo menos ele não
dizia nada, mas nós, os amigos, desenvolvemos um asco as ações de seu pai.

Rona nos fez rir muito e muitas vezes; nos deu importantes lições. E a partir de
hoje a cada crônica em que aparecer no tema - Pior que é - será dedicada a ele.

Há poucos dias ouvi uma amiga muito inteligente dizer: “às vezes é melhor ser
feliz e ficar em paz do que ter razão”.

O Rona, se ouvisse essa frase, com certeza diria: Pior que é.

E diria o mesmo a quem discordasse!



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Convite à reflexão: Festa ou velório?

Convite à reflexão: Na festa ou no velório?

Se alguém te convidasse para ir a um lugar para refletir sobre a vida, a tua existência, teus desafetos, tuas qualidade e defeitos; qual seria o melhor lugar, uma festa ou um funeral?

A pergunta não é indiscreta, mas pode causar calafrios ou indignação; até aí tudo bem.

Mas estamos falando sério. Vamos pular o porquê da pergunta e ir direto aos fatos.

Numa festa se come, se bebe, se dança, se paquera, se namora; enfim, as pessoas se divertem. Nos soltamos numa festa; alguns, depois de umas e outras.

Na festa se deixa de lado as dificuldades nos estudos, no trabalho, nos relacionamentos, no casamento, atritos entre pais e filhos, a situação do país, dúvidas sobre o futuro e aí vai.

Festa é festa; não é hora e nem momento de amargura, de se procurar respostas e resolver questões; é diversão e pronto.

Sem contar os que ultrapassam nas bebidas e no dia seguinte é dor de cabeça garantida.

Mas a questão é refletir, então a festa fica para a hora da diversão. Para uma profunda reflexão, por mais estranho que possa parecer um velório é o lugar certo.

Ainda há pessoas que dizem: “eu não gosto de velório”. Ora, e quem em seu juízo perfeito pode gostar de velório? Os donos de funerárias gostam dos lucros, mas creio que nem eles gostam de funerais, principalmente de familiares. Só doido para gostar.

O fato é que vamos à velórios por vários motivos: Prestar uma última homenagem ao falecido, consolar a família e etc. Nos sentimos um tanto obrigados a comparecer perante alguém amado ou colega para compartilhar a tristeza dos familiares e de algum modo dar um forte abraço, oferecer nosso ombro amigo e compartilhar sua tristeza; até onde sei só humanos seguem rituais dos mais variados em todo o mundo, mas basicamente com o mesmo objetivo; despedida e consolo.

Mas a grande verdade é que quando nos deparamos com o caixão, vimos a face do falecido, as flores, às vezes fotografias ou vídeos; paramos por uns instantes e reservamos um tempo para nós, ainda que ninguém saiba, ninguém perceba. Paramos ali diante o finado e lembramos dele ativo, com planos, parecia até imortal.

Então os pensamentos vêm: Quando será a minha vez? Haverá muitas pessoas? Terei uma morte rápida? (um certo desejo de todos que sabemos que um dia morreremos; não sofrer e não fazer outros sofrerem).

Pensamos na esposa ou marido. Nos filhos. Nos amigos. Naquilo que estamos há tempo querendo e adiando; férias, viagem, realizar um sonho, pedir perdão e fazer as pazes com quem precisamos.

Um breve texto diz:: “O dia da morte é melhor do que o dia do nascimento… melhor é ir a uma casa onde há luto do que a casa onde há festa”. Eclesiastes 7:1,2. Bíblia.

Confesso que quando li a primeira vez achei no mínimo estranho; hoje, entendo.
Quando alguém nasce é uma alegria, mas é bem verdade que não se sabe que tipo de pessoa será ou seremos; no dia do velório estará evidente que tipo de pessoa fomos.

“Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter perdoado mais, fazer o que queria fazer…” Epitáfio - Titãs; linda música. (Sugiro ler o texto bíblico e ouvir a música).

Mas e se houver uma terceira possibilidade; nem festa e nem velório?
Talvez haja sim, e tenho procurado por ela. Não aguardar uma festa para me divertir deixando de lado os problemas e nem o funeral para avaliar minha vida e meus “passos”.

Quem sabe passaremos a rir, chorar, pedir perdão, perdoar, sonhar e buscar a realização dos sonhos, ver o sol nascer. Abraçar mais, dizer que amamos; tudo isso sem festa e sem velório.

As festas e velórios continuariam a cumprir seus papéis; mas as nossas reflexões estariam em outro lugar. Na sensibilidade de quem não espera por farras ou choros, mas que se dá ao prazer de ver como é bom viver e em paz, em qualquer momento e lugar. Sempre!