Vez por outra ouvimos relatos de crianças que começam a
falar cedo. Lembro-me de uma entrevista com um jornalista que disse que havia
começado a falar antes de andar.
Iniciei falando, ou escrevendo a respeito de algo comum,
falar. Há aqueles que com habilidades em diversos campos ficam apavorados se
tiverem que falar em público. E existem os que o fazem com certa ou muita
tranquilidade. Lembro agora de algo tão ou mais importante que a fala.
Certo dia um menino perguntou ao pai: “Pai, qual é a arte da
comunicação?”. O pai respondeu: “Escute meu filho”. O menino esperou e disse:
“Pai, lhe perguntei qual é a arte da comunicação”. O pai completou: “Escute,
esta é a arte da comunicação em qualquer campo, escutar”. O menino escutou e
entendeu. Comunicar, compreender, sentir, usar de empatia; exige ouvir.
O escritor Gary Chapman em seu livro – As 5 linguagens do
amor, conta uma história real e especial.
Uma mulher chegou do trabalho certa noite e começou a
chorar. O marido perguntou o que havia acontecido. Ela falou sobre alguns
problemas no trabalho. O marido, assim como muitos de nós, “conselheiros”
passou a explicar a esposa como deveria agir para resolver seu problema. E
assim passaram várias noites. Ela, aborrecida, abordada pelo marido sobre o
problema que a incomodava, ouvia seus conselhos e orientações. Certo dia o
marido se cansou e jogou encima dela que não queria e não iria mais ouvi-la
sobre esse problema. Afinal de contas, ela não acatava seus conselhos. Meses
depois a esposa o deixou.
Só depois disso aquele marido entendeu algo incrível. Sua
esposa não queria seus conselhos, sugestões e orientações. Não. Ela só queria o
que muitas vezes queremos. Que alguém nos ouça de verdade. Que compreenda a dor
pela qual passamos e compartilhe conosco, seja pelo apropriado silêncio da
ocasião ou com palavras bem escolhidas. Palavras que irão reanimar nosso
interlocutor ou pelo menos mostrar que nos interessamos por ele.
Diz certa pesquisa que normalmente as pessoas costumam ouvir
por 17 segundos antes de interromper e apresentar seu ponto de vista.
Num restaurante é
fácil notar quem é namorado e quem é casado. Namorados costumam olhar nos olhos
um do outro, sorrir, ouvir, falar, darem as mãos. Já os casados, muitas vezes
ou na maioria, enquanto não estão comendo ficam olhando para os lados. Foram
ali só para comer.
Por que muitas vezes com um amigo ou uma amiga conseguimos
falar tudo o que pensamos, sentimos, sonhamos? Também ouvimos com carinho,
atenção e sem interrupções. Mas isso acaba não acontecendo entre marido e
esposa. O que ele ou ela, pensa, deseja, precisa e, principalmente, espera de
nós? Talvez o membro do corpo que mais precisamos treinar seja mesmo a língua.
Quem já é bom ouvinte deve ter uma vida realmente feliz no
trabalho, com os filhos, esposa ou marido, amigos e até com aqueles que
reclamam de nós.
Se falar é fácil? Creio também ser uma arte, mas o que
falaríamos se não tivéssemos ouvido?
O que entenderíamos sem escutar? Um bom médico é antes de
tudo um bom ouvinte, assim como um comunicador.
Curas de feridas emocionais podem acontecer. Alegrias e
amizades retornar. O encanto por quem nos rodeia pode existir. O maior dos sentimentos
pode vir a brilhar no casamento de quem realmente – ouve.
Fale, critique, mas, antes e depois, escute até entender e
sem interromper!