Poucas figuras são tão incomuns como o Rosalvo. Complexado com o tamanho de seu nariz e com a infelicidade de viver em uma época em que bullying era coisa de outro mundo teve que se adaptar as circunstâncias. Talvez para sofrer menos chacotas dos amigos, ou sabe-se lá por que motivos adquiriu algumas maneiras estranhas.
Ficou conhecido primeiro por concordar com todos, ou visto de outra maneira, nunca discordar de ninguém. Era assim. Se alguém dissesse perto dele:
- O Figueirense não vai longe desse jeito. Está muito ruim! – Rosalvo respondia:
- Pior que é. Não vai longe – Outra pessoa dizia:
- Que nada. O Figueira está só no começo do campeonato. Está bem. – Rosalvo dizia:
- É verdade. Ta só no começo está muito bom.
Quando alguém dizia:
- Este verão está mais quente que o verão passado – Rosalvo concordava:
- Está mesmo! – Outro discordava:
- Que nada. O verão passado foi bem mais quente. – Rosalvo dava sua opinião:
- Sabe que é mesmo. O verão passado foi pior.
Não importava a opinião, Rosalvo sempre concordava também com o último a opinar.
Na vidraçaria em que trabalhava levava tudo ao pé da letra. Quando o patrão via alguns pregos no chão, dizia em tom de proposital exagero:
- O Rosalvo, que isso, cem pregos jogados no chão. Que desperdício!
Rosalvo abaixava-se, juntava três ou quatro pregos, levantava-se e indignado dizia:
- Cem pregos? Isso aqui é cem pregos? To vendo três. Não sabe contar?
Houve um dia em que os colegas quiseram aprontar uma com Rosalvo. Disseram a ele assim que entrou no carro:
- Poxa Rosalvo. Este ano todos os feriados vão cair aos domingos. Todos!
- Não pode ser – respondeu Rosalvo.
Um dos colegas acrescentou:
- Até a sexta-feira santa, Rosalvo, vai cair num domingo – Rosalvo perdeu a calma e disse em voz alta:
- Que droga! Pobre é mesmo azarado. Eu ia viajar nesse feriado. Mas até sexta-feira santa no domingo. Que droga.
No carro a caminho da casa em que trabalhariam aquele dia os colegas tentavam combinar um jeito de facilitar seu serviço. Acontece que era uma casa de três pisos, muitas portas e janelas e usariam centenas de filetes. Cortados em máquinas simples seria muito trabalhoso. Combinaram que tentariam convencer o dono da casa a usar massa colorida em vez de filetes. Já diante o dono da obra explicaram que filetes são bonitos, mas a massa colorida, ah, essa daria um tom especial as portas e janelas.
Os vidraceiros torciam para que o homem aceitasse a proposta. Facilitaria muito seu serviço. O homem estava em dúvida. Os vidraceiros mostraram as cores possíveis. O homem se animou e para a alegria dos vidraceiros disse que apesar de achar filetes mais bonitos aceitaria a massa em vez dos filetes.
Assim que o homem preparava-se para sair Rosalvo disse em alto e bom tom:
- A massa vai deixar muito bonito, mas filete é filete, não tem igual.
O homem voltou-se para os vidraceiros e disse:
- Fim de conversa, quero filetes!
Burro, estúpido, tanso. Foram alguns dos adjetivos usados para o pobre Rosalvo que só fez concordar sempre com o último.
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