quarta-feira, 10 de abril de 2013

Morte bonita?

Depois da lamentável notícia, em algumas situações, alguém diz: - Foi uma morte bonita – E não falta alguém para completar: - Morreu dormindo. Não sentiu nada! É difícil imaginar uma morte bonita. Bonito é viver. Claro que quem diz isso está na realidade querendo dizer que foi uma morte sem grandes sofrimentos, uma morte rápida. A segunda afirmação merece atenção de especialistas na área. Dizer que uma pessoa morreu sem sentir nada só porque foi encontrada morta logo pela manhã é um tanto suspeito. Rodrigo, um historiador, homem “devorador” de livros e grande apreciador da respiração e da vida, disse: - Eu não gostaria de morrer dormindo. Será o dia mais importante da minha vida. Único. Quero estar bem acordado, atento a tudo, sentir cada momento. Acredito que Rodrigo quer saborear a vida até o último instante. Faz lembrar o capitão Rodrigo Cambará, personagem de Érico Veríssimo, do livro O tempo e o vento. O capitão Rodrigo quando estava partindo para um combate (que culmina com sua morte), embora otimista, disse a sua esposa, Bibiana, que quando morresse que fosse escrito em seu túmulo – Capitão Rodrigo Cambará, sugou a vida até sobrar só o caroço - O Rodrigo de hoje também acha que não há morte bonita. Acha estranha a afirmação de que quem morreu dormindo não sofreu nada. Imagino um sujeito agoniado, procurando alguém ao seu lado, alguém que o ajude, e não encontra ninguém. Estica o braço para apanhar o celular e só então lembra que o deixou lá na cozinha. Que droga. Bom é estar bem. Mas como a morte ainda faz parte da vida, ou do fim dela, é bom lembrar esses dois Rodrigos. O personagem de Érico Veríssimo morre com um tiro nas costas, nem fica sabendo quem lhe tirou a Grande Dádiva. Já o Rodrigo de hoje segue aproveitando. Boas companhias, bons livros, boa comida, boa bebida, boa música, até seu violão. Está decidido. No dia de sua morte quer estar bem. Pelo menos o suficiente para saber tudo o que estiver acontecendo a sua volta. Quer curtir esse momento frio e triste como última coisa de sua vida. Mas ele sabe que enquanto ainda faltar alguns segundos não vai deixar de aproveitar. Rindo ou chorando, somente depois do último segundo irá se entregar. São planos. Morrer sem muita demora pode até ser uma benção, mas o bom mesmo é não pensar em ter uma morte bonita e sim uma vida bonita. Afinal de contas, alguém dirá sobre nós, se foi uma morte bonita ou não.

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