Assunto “indigesto”?
Difícil de digerir. Que causa indigestão. Ou ainda confuso,
enfadonho e intragável. Pra que falar então em assuntos indigestos? Porque
quando envolve coisas que afetam a nossa vida, nossa maneira de ser, de nossos
filhos e de escolhas, parece que vale mais deixar pra lá.
Já imaginei em certa ocasião que somos nossos “melhores
advogados”. Quando é comigo ou com um dos meus, ah, aí a coisa é diferente. É
como aquela situação: “Eu posso criticar meus filhos, mas experimente outro
fazer isso”. Ou a frase: “Se conselho
fosse bom ninguém dava, vendia”.
Quantos de nós estamos de fato preparados para ouvir
críticas a nosso respeito ou a alguém amado? Não é fácil, mas “cabeças boas”
tiram bom proveito disso. Já foi dito por alguém: “Conselho é como dinheiro,
receba, mesmo que não use agora, um dia vai precisar”.
Coisa fácil é observar e ser como “técnicos” dos defeitos
dos outros e dos filhos dos outros.
Ouvindo na TV uma filósofa e psicanalista dizer que “as
pessoas parecem ter medo de falar em assuntos que envolvem moral” me coloquei a
pensar nas palavras do texto de hoje.
Sexo. O incentivo é tomar cuidado. Não engravidar e não ser
engravidada. Não contrair doenças sexualmente transmissíveis.
Bebidas. Conselhos: beba com moderação. Se beber não dirija.
Aborto. O corpo é
seu, a vida é sua. Decida o que achar melhor.
Indigesto dizer que o sexo é algo sério e para ser levado
com seriedade. Que é para pessoas que têm uma verdadeira união, casados.
Indigesto, não?
Indigesto dizer que é um absurdo distribuir preservativos a
todos e pronto, “fizemos a nossa parte”.
Indigesto dizer que uma gravidez é alegria, que com seis
semanas de gestação o coração da criança, da pessoa, do filho, já bate mais de
cem vezes por minuto. Como é mesmo que chamam alguém que tira a vida da outra
pessoa sem dar a ela a chance de defesa? Quanto eufemismo usei até aqui. Ah,
claro, é assunto indigesto.
O que será da próxima geração? Por um lado tanta evolução e
por outro tanta permissividade.
Há pessoas que criticam certos programas de TV, mas os
assistem. Músicas então. Coisas e frases totalmente imorais são repetidas e
pais acham bonitinho o filho ou a filha cantando e dançando.
Quando as virtudes viram matéria de jornal. Um ato de
bondade preenche a pauta de certos programas, é porque a coisa está feia. E não
é culpa só da imprensa. A imprensa faz parte da roda da vida e das coisas da
vida e não tem tanta liberdade assim.
Não é preciso ser um moralista, um antiquado, um careta, um
chato, um atrasado. É preciso só ter consciência do que estamos “plantando”. A
situação de hoje foi plantada “ontem”.
Alguns em desespero disparam frases sem nexo: “Devia voltar
o militarismo”. Que isso?
É bom atuar na comunicação em ambientes livres para
expressar e ouvir. Se assim não fosse que valor teria ser jornalista, para que
mais serviria a imprensa? Se sentir o estômago embrulhado, um enjoo, talvez não
seja por ter comido algo de ruim. Pode ser o que tem visto e ouvido por aí.
Melhor sentir a indigestão. É sinal de que ainda temos certa medida de
sensibilidade a “assuntos indigestos”.