Uma das máximas no jornalismo seria considerar como notícia
de destaque não o fato de um cachorro morder um homem, mas sim um homem morder
um cachorro.
Lógico que essa ilustração serve para demonstrar que notícia
é o incomum.
De certa maneira as coisas que se tornaram comuns são
justamente, atitudes, gestos, comportamentos, inclinações, expressões de mau
gosto, má educação, agressividade e violência.
Atitudes negativas se tornaram a ordem do dia; o que parecia
incomum há anos ou décadas hoje não espanta mais.
Hoje quando alguém é honesto ou educado é notícia certa. Se
for as duas coisas é chocante.
O que há de
surpreendente em uma pessoa ajudar um deficiente físico?
Como podemos nos impressionar ao ver alguém educado?
Como pode ser notícia o fato de alguém devolver uma carteira
com dinheiro dentro?
O que leva um juiz ser considerado louco e inadequado?
Por que uma pessoa que diz que vai se casar virgem causa
espanto? Ela é normal?
Alguém que é casado e leal ao marido ou esposa passa uma
impressão estranha?
Como é encarado alguém em cargo de autoridade que faz o que
tem de fazer?
Por que um jornalista imparcial é admirado?
Uma sociedade que diz: “Ele rouba, mas faz. Todos roubam,
mas esse pelo menos faz alguma coisa”. “Achado não é roubado”. “A ocasião faz o
ladrão”.
Se partirmos do princípio que desde que faça algo de bom não
importa ser ladrão; logo diremos a uma mulher que apanha do marido: “Mas ele é
bom pai, trabalhador, tua mãe adora ele, não deixa faltar nada em casa; só te
dá uns tapas quando bebe”.
A ocasião não faz o ladrão, antes revela o ladrão, senão
todos nós seríamos ladrões em potencial, apenas aguardando uma oportunidade.
Quando quem merece um troféu é apontado como louco, bandido
ou indesejável é porque a coisa já está feia demais.
A mesma polícia tão criticada é a primeira a ser chamada na
hora do apuro. Não são chamados para um café, só para resolver problemas. Claro
que é sua função. Mas e o reconhecimento a atos de bravura que não são raros?
As palavras: “Os que trocam o amargo pelo doce e o doce pelo
amargo, os que inocentam o culpado em troca de suborno e negam justiça ao
justo; os que dizem que o bom é mau e o mau é bom”, estão escritas há uns 3 mil
anos. Bíblia. Isaías 5: 20-23. Essas atitudes são vistas hoje por nós em quase
todas as esferas da vida. Escola, trabalho, órgãos públicos, privados,
religião, mídia, e nas próprias casas, no seio da família.
Só falta mesmo uma pessoa, louca ou não, morder um cachorro
e trazer um tema incomum.
Num momento de troca e inversão de valores quem será mais
ingênuo, quem crê em lobisomem e no super homem, ou quem vê melhoras a curto e
médio prazo?
Será que há coisas boas acontecendo e são pouco divulgadas?
Talvez dependa também do interesse de quem consome as
notícias. Se é verdade que somos o que consumimos podemos treinar nosso
“paladar intelectual”. Que o doce seja doce e o amargo o que realmente é.
Um importante detalhe é que nós como seres humanos somos a
principal matéria prima que leva a produção de ações e que viram notícia, sejam
elas doces ou amargas!
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