quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O homem do 4


Arnaldo vivia em Curitiba. Aos 44 anos e pai de 4 filhos estava com o casamento por um fio.

Na realidade não era apenas o casamento de Arnaldo que estava a perigo, seu “pescoço” também. Ele havia acumulado muitas dívidas e estava desempregado já por 4 meses.

Certa noite ao chegar em casa se deparou com 4 homens o esperando. Era uma cobrança de dívida de um agiota. Depois de ouvir algumas duras palavras entrou em casa.

Assim que se senta em frente à TV sua esposa, Soraia, diz:

Arnaldo, não da mais. Simplesmente não aguento mais. Eu até te amo, você é um bom pai, mas não tem mais jeito. Quero o divórcio e não adianta você insistir. Namoramos por 4 anos e tinha certeza que você era a pessoa certa. Mas você não para em emprego nenhum. E pior, suas apostas, principalmente nas corridas de cavalos. Chega. Acabou!

Arnaldo, arrasado, entra em seu pequeno escritório. Senta-se diante a velha mesa onde por anos havia elaborado muitos planos, suas apostas em corridas; quase nada dera certo.

Com muitas dívidas, desempregado, o abandono da esposa; tudo parecia desmoronar a sua volta. O apostador teve um horrível pensamento.

Abriu a gaveta da escrivaninha e viu seu revólver, um 38. Arnaldo pegou aquela arma e passou a contemplá-la. Parecia que ela lhe dizia algo. Ele abre a arma e vê que seu revólver tem 4 balas. 

Coloca o 38 sobre a pequena mesa e pensa em fazer uma loucura. Acredita que deveria escrever algo antes de executar o plano. Ele abre novamente a gaveta e vê alguns papéis.

Encontra sua certidão de nascimento e se emociona. Lembra-se dos 40 mil reais que deve. Dos 4 meses que está desempregado. Então volta sua atenção para seus documentos. Sua data de nascimento: 4 de 4 de 44. Em seguida observa uma antiga foto sua ainda em preto e branco.

No verso da fotografia, dizia: Arnaldo Pereira aos 4 anos.

Ele pega a arma e de repente, como que uma luz se acende em sua mente. Para um apostador tudo parece querer dizer alguma coisa; até o nada parece levar a um palpite.

Arnaldo deixou os pensamentos viajarem, e foram longe: Estava com 44 anos. Uma dívida de 40 mil. 
Os 4 homens que o ameaçaram. O namoro com a esposa que havia durado 4 anos. Os 4 filhos. Sua data de nascimento – 4/4/44. A arma com 4 munições. Óbvio, só poderia ser um sinal “dos céus”. O número 4 seria seu número da sorte, sua salvação.

Lembrou que logo haveria uma corrida no Hipódromo onde tantas vezes havia apostado e na maioria se ferrado. Mas dessa vez o Jockey Club traria soluções.

Tudo parecia tão óbvio. Todas aquelas aparições com o número 4. É isso, pensou o apostador.

Sem contar que fazia 4 meses que havia vendido o carro. Resolveu pegar um táxi.

Enquanto aguardava imaginava o quanto custaria à corrida. De repente, vem um táxi e para mais uma surpresa do apostador a placa do táxi era: VAI 4444.

Na mente de Arnaldo não havia o que duvidar. Eis a resposta, ou a solução para suas dívidas.
Ao entrar no táxi se apresenta e pergunta o nome do motorista. O taxista, com educação, diz:

- Prazer, seu Arnaldo. Meu nome é Torquato.

Torquato. Na mente do apostador e a essa altura dos acontecimentos o nome lembra: “Tor quatro”.

Arnaldo contou sua comovente e intrigante história ao taxista. Inclusive a placa do táxi e o nome do motorista. Disse a Torquato que só não apostaria mais porque só tinha os 40 reais para pagar a corrida, claro, se não passasse de 40 reais.

Torquato, sensibilizado com a história de Arnaldo, disse:

- Faça o seguinte meu amigo. Use os 40 reais para a sua aposta. Com o dinheiro do prêmio você me paga.

- Poxa, nem sei como lhe agradecer, seu Torquato. Faço questão de pagar o dobro do valor da corrida com o valor do prêmio que sei que vou ganhar – disse com fé, Arnaldo.

A corrida havia custado 40 reais. Para Arnaldo, mais um sinal. Ele era pura empolgação.

Torquato perguntou a Arnaldo em qual cavalo apostaria. Arnaldo disse que no número 4, lógico.

O taxista ainda pegou 400 reais e emprestou a Arnaldo para aumentar a aposta e o lucro.

Arnaldo sai em disparada. Quase perde o tempo da aposta. O homem do guichê pergunta o número do cavalo. Arnaldo sorri de uma maneira que nem o funcionário acostumado com as apostas consegue entender.

- No número 4, por favor, 440 reais no vencedor. O número 4.

Ele aposta e vai em direção ao local para acompanhar a vitória e o fim dos seus problemas financeiros.

O taxista aguarda sentado num meio fio.

A corrida começa. Arnaldo se emociona. Olha para o céu ao ver o cavalo número 4 em primeiro lugar e agradece sabe lá a quem.

A corrida segue. O número 4 é ultrapassado 3 vezes. Arnaldo leva a mão ao peito.

Fim da corrida. O cavalo número 4 chega em 4º lugar.

O cavalo vencedor é o de número 5.

Arnaldo sai desconsolado. Quando chega a rua vê o táxi estacionado. Só então lembra que agora tem mais uma dívida, aliás, duas, a da corrida e o empréstimo de 400 reais.

Quando Torquato olha o triste semblante de Arnaldo, entende tudo. Arnaldo se aproxima e quando começa a abrir a boca ouve o taxista dizer calmamente:

- Não foi dessa vez, não é mesmo? Não esquenta com a corrida nem com os 400 reais. Quer uma carona de volta?

- Não, muito obrigado. Vou tomar um ar e caminhar um pouco. Desculpe. Não se preocupe.

O taxista vai embora. Arnaldo põe a mão num dos bolsos da calça e encontra 4 reais.

Ele olha para sua direita e vê um carrinho de cachorro quente onde muitas vezes comeu um lanche por 4 reais. Arnaldo se aproxima, cumprimenta o dono do carrinho de cachorro quente e pergunta:

- Boa tarde. Quanto custa o cachorro quente?

- Está 5 reais – responde o homem.

Arnaldo com seus 4 reais senta no mesmo lugar onde estava o taxista. Sente-se perdido.


Ele ouve uma música em alto volume. É um desses carros que anunciam promoções de sorteio de carros e casas.  Arnaldo olha a placa do carro e lê: ARN 5555. Em seguida olha para o chão e encontra uma moeda de 1 real. Levanta a cabeça e pensa: “ARN são as primeiras letras do meu nome. 

A placa: 5555. Com mais 1 real que achei agora tenho 5 cinco reais. Será finalmente um sinal?”

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