Dizem que cavalo encilhado não passa duas vezes. Enfim, não
se deixa passar uma boa oportunidade.
E isso era tudo o que Juvenal precisava.
Ele havia se apaixonado por uma colega de classe. Sonhador,
apaixonado e muito tímido. Ela era loirinha, de olhos azuis; linda. O tempo
passou, eles se formaram e Juvenal não a viu mais. Dois anos se passaram e a saudade
só aumentava. Juvenal se perguntava: “Será que vou reencontra-la um dia?”. Ele
tinha 17 e ela 16.
Certo dia Juvenal sonhava acordado dentro do ônibus a
caminho do Centro de Florianópolis. Ao abrir os olhos vê a loirinha. O coração
dispara. A boca fica seca. Os olhos marejantes. Que loucura, a
loirinha que não
via há dois anos. Daniela estava lá, mais bonita ainda, mas não havia visto
Juvenal.
Ela também saltou no Centro de Florianópolis. Juvenal chegou
ao trabalho e contou a um amigo o que havia acontecido. Cleber ficou perplexo
em saber que Juvenal não havia falado com ela, nem sequer tentado.
Chegando em casa a noite, Juvenal foi recepcionado pelo
grande e fiel amigo, Johnny. Com ele Juvenal falava a vontade. Não havia
timidez nem segredos. O pequeno cachorrinho há três anos era seu parceiro. O
apego de Johnny por Juvenal era tão grande que era comum ele segui-lo pelas
ruas ou aonde quer que Juvenal fosse.
Juvenal por sua timidez, quem sabe orgulho, ficava
envergonhado quando era seguido por Johnny.
Uma noite Juvenal pensou em como poderia aproximar-se da
loirinha. Havia várias semanas que pegavam o ônibus juntos e ela ainda não o
havia visto. Ele preparou-se e ensaiou algumas palavras.
Faria de conta que era
a primeira vez que a via. Pensou até em jogar um charme, não sabia como, mas
pretendia.
Numa bela manhã Juvenal estava prestes a entrar no ônibus no
ponto final do bairro Bela Vista, em São José. Ele embarcou e a loirinha dois
pontos depois. A principio ele fez de conta que não tinha a visto. Ela estava
linda. Os cabelos loiros e ondulados, os olhos azuis com suave brilho e um
vestido preto que a tornava ainda mais especial.
Juvenal lembrou tudo o que havia treinado. Respirou fundo e
foi em direção ao cobrador. Assim que paga a passagem o cobrador diz a Juvenal:
- Ei amigo. O teu cachorro entrou no ônibus.
Juvenal olha para Johnny, engole a saliva, respira fundo e
diz ao cobrador:
- Não, o cachorro não é meu não! O cobrador pede desculpas.
Juvenal por um instante esquece o cachorro e vai em direção à loirinha. Quando
está bem perto dela e prepara-se para abrir a boca é interrompido pelo cobrador
que diz em voz alta:
- O meu amigo, o cachorro é teu sim. Está bem atrás de ti e
abanando o rabo.
O ônibus está quase lotado. Todos olham e a maioria dá
risadas. A cena era simplesmente hilária.
Juvenal por mais que gostasse do fiel
amigo tem vontade de jogá-lo pela janela.
O motorista para o ônibus e diz educadamente a Juvenal que
ele pode colocar o cachorrinho para fora e ressalta que pode fazer isso com
calma, ele aguardaria.
Eram poucos passos, mas para Juvenal era como se estivesse
indo em direção à forca.
Johnny não teria problemas em voltar para casa. Isso deixava
Juvenal mais tranquilo. O problema seria voltar ao ônibus, encarar as pessoas,
especialmente a loirinha. Ele entra com rosto como que pegando fogo e o coração
disparado. Não lembra mais o que havia treinado para dizer a sua amada.
Juvenal
firma as mãos na barra do ônibus e sente-se destruído. Ele é surpreendido pela
loirinha que aproxima seu rosto ao dele. O perfume dela traz todas as
lembranças de quando ela passava por ele na sala da aula durante anos. A
loirinha aproxima sua boca ao ouvido de Juvenal e diz de maneira delicada:
- Seu cachorrinho é lindo!
Juvenal viaja em seus pensamentos. O cheiro, a voz, a
presença dela. Ela havia tomado a iniciativa em falar. Chegam ao Centro de
Florianópolis e ele não a vê. Quando chega ao trabalho conta o que aconteceu ao
amigo, Cleber. Fala da vergonha que havia passado com o Johnny. Cleber vê o
lado positivo e lembra o mais importante, ela havia falado com Juvenal.
Os dias seguiram. O mesmo horário. Muitas vezes o mesmo
motorista e passageiros, mas nunca mais voltou a ver a loirinha, não teve
notícias dela.
A caminho de casa pensava na oportunidade perdida. Quando
chega e abre o portão é recebido por
Johnny com lambidas, rabinho abanando e
muita alegria. Ele sempre estava ali
e aproveitava todas as oportunidades!