Aderbal sonhava em ter um sofá bonito em casa. Sempre que andava pela Felipe Schmidt, olhava as lojas que exibiam belos sofás. Quando ainda solteiro, mas já namorando, foi encontrar a amada no Shopping Itaguaçu, iriam ao cinema. Mas é claro, Aderbal primeiro admirou um belo sofá e pensou que quando casado, teria um daqueles em sua casa, mesmo que fosse uma humilde casa.
De repente, lembra-se da namora e caminha em direção ao cinema. Aderbal é um sujeito um tanto romântico e pensa em comprar balas para a amada.
Numa dessas lojas vê balas coloridas e mesmo sabendo que tem pouco dinheiro pede duzentos gramas de bala. Aderbal pensa que vira o preço do quilo, mas que nada, era o preço de cem gramas. Quando a simpática moça lhe dá o valor, ele fica pasmo.
Envergonhado, não diz que confundiu o preço, achando que era preço do quilo, não de cem gramas; a bala era cara mesmo.
Aderbal paga a conta e nota que sobrou exatamente o valor das entradas do cinema. Ele fica preocupado com a possibilidade de a namorada pedir pipocas ou algo parecido. Não tinha dinheiro nem para uma água.
Assim que se encontram começam aquelas coisas de namorados:
-Oi amor.
-Oi meu lindo. Senti saudades.
-Eu também. Você ta linda. Vamos?
-Hum, vamos meu cheiro.
Ela olha para a pequena lanchonete ali no cinema. Aderbal, vendo seu olhar, lembra que não tem mais um centavo. Antes que ela peça algo, ele diz:
-Ta com sede, Helena? Porque se estiver com sede tem um bebedouro aqui. Aproveite e tome água agora e não terá de levantar depois.
Mesmo sem entender o deselegante convite ela vai até o bebedouro e toma água.
Três anos depois...
Casados, Aderbal e Helena resolvem comprar um sofá. Havia chegado o dia tão aguardado por Aderbal. Assim que entram no Koerich, ele vê o sofá. O sofá é um sonho.
Faz até lembrar aqueles sofás das novelas das nove. Aderbal senta, estica-se, Helena senta na outra ponta, o sofá forma um L.
Chega o vendedor e diz:
-Ah, vejo que gostaram. É muito confortável, não é mesmo?
-O, e se é! – diz Aderbal, empolgado.
-Querem ver outros?
-Não, não, é esse mesmo, é o sofá que sempre sonhei!
Feita a compra se despedem do vendedor e vão aguardar o sofá em casa.
-Aderbal, Aderbal- grita a Helena- O caminhão chegou, o sofá chegou.
Os entregadores pedem licença para entrar e tentam:
-Pra lá, não, pra cá, vira, vira, não, não, ah meu Deus – diz um dos entregadores.
O outro olha para Aderbal e diz:
-Olha amigo, não entra de jeito nenhum, não vai caber na sua sala.
Aderbal, desconsolado, mede daqui, mede dali e nota que não cabe mesmo. Tristes, olham os homens levarem de volta o esperado sofá. Aderbal senta no chão da pequena sala, da pequena casa. Helena com as mãos na cintura não sabe o que dizer. Mas Aderbal levanta-se e na tentativa de vencer a decepção convida a esposa para irem ao cinema. Antes de saírem, Aderbal olha para Helena e diz:
-Se estiver com sede, tem água na geladeira.