Por vezes os amigos Marcelo e Tomaz não eram convidados para
festas de colegas do bairro.
Enquanto Tomaz reclamava por não ser convidado,
Marcelo não perdia tempo, muito menos uma festa, com ou sem convite.
Marcelo chegava rindo
como se fosse um convidado de honra. Tomaz já entrava no local da festa com o
rosto vermelho e trêmulo com a possibilidade de serem expulsos e assim
humilhados em público. Tomaz sempre se impressionava com a ousadia de Marcelo.
O bicão entrava no salão ou na casa onde acontecia a festa, cumprimentava as
pessoas, comia, bebia, ria e dançava. Tomaz não aproveitava nada, só imaginava
o dia em que alguém notasse que eram bicões e os expulsassem.
Num belo dia de sábado foram passear na cidade de Antônio
Carlos. Ao final da tarde notaram uma grande movimentação e Marcelo logo tratou
de se informar. Era um casamento. E a pessoa que falou fez questão dizer que
seria um baita casamento, um festão. Pudera. Casamento estilo interior, com
direito a incluir um boi, porcos, frangos e muita bebida, além de música; bota
festa nisso, afirmou Marcelo.
Tomaz segurou Marcelo pelo braço e tentou convencê-lo de que
não era boa ideia. Que embora fosse festa grande e com muitos convidados era
uma cidade onde todos se conheciam, não daria certo, não ali. Marcelo argumenta
que não seria a primeira e nem a última, e que tudo daria certo como sempre.
Eles foram entrando e ficaram impressionados. Havia carne de
boi, de porco, frango, maionese, polenta, palmito, cerveja, refrigerante e
muito mais. A festa era animada por uma banda que fazia o mais tímido sentir-se
um verdadeiro pé de valsa.
Os dois amigos se acomodaram com facilidade, parecia até que
aquela mesa estava reservada para eles. A comida e bebida liberada faziam
Marcelo comer sorrindo. Tomaz estava começando a entrar no clima quando nota os
noivos se aproximando de cada mesa para cumprimentar os convidados.
Ele diz em voz baixa, mas com tom de pavor:
- Meu Deus, Marcelo. Olha lá. Os noivos vão chegar a nossa
mesa, o que vamos fazer?
Marcelo, que estava quase terminando o segundo prato, disse:
- Fica calmo, rapaz. Comeu bem?
- Eu ia começar, mas e os noivos? Meu Deus, que vergonha.
- Fica frio, Tomaz. Talvez até passem direto.
Quando Marcelo passa a mão sobre a barriga satisfeita de
comida e cerveja o noivo chega sozinho a mesa dos amigos penetras. Tomaz se
levanta apavorado. Marcelo passa lentamente o guardanapo na boca e levanta com
impressionante calma.
O noivo, com muita calma e educação, aproxima-se dos dois e
diz:
- Prestem atenção. Essa é uma festa de casamento, do meu
casamento. Aqui há familiares e muitos amigos, mas todos convidados. Não me
parece ser o caso de vocês.
Tomaz sente vontade de sair correndo, mas teme desmaiar.
Sabia que um dia isso aconteceria e havia chegado o dia.
O noivo diz gentilmente:
- Se já terminaram de jantar, por favor, saiam numa boa, sem
problemas.
Vários convidados olham curiosamente, mas não ouvem o que o
noivo diz.
Marcelo faz questão de sair com classe da situação e diz em
voz alta para que os convidados ouçam:
- Foi uma grande honra estar nesta festa. Tudo está muito
lindo e o jantar maravilhoso. Veja as expressões dos convidados. Peço perdão,
mas meu amigo e eu precisamos ir, não vamos nem poder esperar pelo bolo. Desejo
felicidade a esse lindo casal. Sinto muito, mas realmente precisamos ir. Boa
noite!
Quando se aproximam da porta um dos garçons diz:
- Pena que tenham que sair tão cedo. Ouvi suas palavras. São
os convidados que demonstraram mais classe até agora. Faço questão que levem
alguns doces e um bom pedaço de carne!
Tomaz, tomado de uma confusão mental, vergonha e vontade de
matar Marcelo, diz:
- Você ouviu o que o noivo disse? Viu o que aconteceu?
Marcelo responde ao amigo com entusiasmo:
- Sim. O noivo foi extremamente educado e discreto. O garçom
muito gentil. Gosto de festas assim. Quanta classe, hein!