quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Contra a vida?


Se já passou pela sua cabeça em algum momento da sua vida acabar com tudo, colocar um “ponto final”, ou de maneira mais clara, se já pensou alguma vez em cometer suicídio saiba que 17% das pessoas no Brasil já pensaram em fazer isso.

Desesperança, desilusão, impulsividade, sentir-se um fracasso ou um peso para outras pessoas, além de doenças como a depressão, bipolaridade, alcoolismo e outras drogas têm sido marcadas pela a OMS (Organização Mundial da Saúde) como a causa de mais de 800 mil suicídios em todo o mundo e quase 12 mil só no Brasil em 2012.

 Alarmante: A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio em todo o mundo. No Brasil são mais de 10.000 casos por ano, ou 30 por dia. Hoje, em todo o mundo, são mais de um milhão de suicídios por ano.

Entre os jovens de 15 a 29 anos já é a terceira principal causa de mortes.

Falar ou não falar sobre o suicídio, eis uma importante questão.

De um lado a imprensa e muitos profissionais da saúde que na melhor das intenções creem que expor ou divulgar casos de suicídio servirá de incentivo a pessoas propensas a isso.

De outro lado alguns da imprensa e da área da saúde acreditam que “abafar” o assunto só faz piorar a situação.

Uma coisa é certa, os números não mentem, ao contrário, assustam.

Sempre defendi a divulgação do suicídio como meio de “abrir nossa mente” e do poder público para combater o suicídio. Confesso, porém, que meses atrás senti na pele certa dificuldade. Quando vi o sofrimento de familiares de um grande amigo que possivelmente cometeu suicídio cheguei a rever, ainda que momentaneamente meus conceitos sobre o assunto. Acreditei que se a notícia fosse abertamente divulgada como suicídio (ainda que no caso em questão haja poucas dúvidas), a família sofreria mais, talvez se sentindo culpada.

Mais devastador do que a notícia da morte de um ente querido é saber que ele tirou a própria vida.

Para cada suicídio pelo menos outras seis pessoas são afetadas diretamente. São familiares ou amigos íntimos que têm sua dor da perda aumentada com o sentimento de: Como não percebemos? Por que não fizemos nada? Se tivesse prestado atenção aos sinais... Quem sabe ele estaria aqui.

O Dr. João Paulo de Oliveira Branco Martins – Médico Psiquiatra Titular da Associação Catarinense de Psiquiatria: CRM SC/18062 RQE 12342 – colaborou de maneira especial com dados e informações para esse artigo.

Estima-se que 50% dos que cometeram suicídio já haviam sem êxito tentado tirar a vida.

As informações enviadas pelo médico psiquiatra: João Paulo Branco Martins nos lembra de outros fatores importantes.

O suicídio por mais que possa ser planejado é transitório, podendo durar de minutos ou horas.

O investimento na capacitação dos profissionais da saúde, que embora não possam prever o suicídio, poderia torná-los capazes de discernir sinais e regiões onde há maior propensão.

Sabendo que hoje já são mais de um milhão de suicídios em todo o mundo, e que pesquisas apontam que até 2020 esse número pode aumentar em até 50%, podemos nos concentrar no Brasil.

Nosso país é o 8º no número de suicídios. Todos os anos, 10.000 casos. Na média, 30 por dia.

A terceira maior causa de morte entre os jovens. Se notou que já havia lido esses dados nesse artigo/crônica não é mera coincidência. É duro, mas é verdade, é fato. Enforcado, com um tiro, com abuso de medicações e de outras formas. Milhares de pessoas podem ser ajudadas. Milhares de famílias poderiam não estar sofrendo. Quem sabe outras possam não ter esse trauma. 

Noticias locais: Moça cai da ponte... Um homem é tragicamente atropelado por um caminhão... 
Médico conceituado é encontrado morto em seu apartamento.

Quando é um famoso como o ator Robin Williams a noticia é direta.

O drama do tabu e da religião. Durante muito tempo e talvez até hoje o suicídio seja encarado como um dos piores pecados, senão o pior.

Para refletir: Religiosos bem intencionados pregam ou evangelizam em penitenciárias. Dizem a assassinos que se eles se arrependerem Deus perdoa. Não duvido disso. Mas se um assassino, alguém que de livre e espontânea vontade, por ambição, tirou a vida de uma ou mais pessoas tem direito ao perdão; por que não alguém que tirou a própria vida? Por acaso alguém se mata porque está numa boa e acha que já é hora de morrer? Só Deus para saber o que passa pela mente de um suicida.

E ademais. Imagine uma família sofrendo com a morte de um ente querido. A dor aumentada por saber que foi suicídio. Então chega alguém e diz que é um pecado sem direito a perdão.

O silêncio pode ser mais consolador do que muitas palavras.

No mês de setembro há uma mobilização ao combate ao suicídio. Mas o suicídio continua ocorrendo nesse e nos outros 11 meses, em cada dia, em cada família e em cada mente que sofre os horrores das doenças psíquicas que levam a esse pensamento e ação.

Guerras, violência, acidentes, catástrofes naturais, doenças tiram a vida de muitas pessoas todos os anos. Quantas poderiam ser evitadas? Quantas dessas vítimas merecem um julgamento?

Solidariedade e empatia com as famílias que sofrem com o suicídio. Atenção com aqueles que de alguma maneira demonstram o desejo de tirar a própria vida. Não é o caso de pegá-los pela mão e lhes mostrar pessoas que ao nosso olhar sofrem mais.

Muitos pensam assim: “Há tantas crianças e outras pessoas sofrendo tanto e nem por isso pensam em tirar a vida”. Como se esse argumento fosse ajudar alguém com pensamento suicida. Isso é diminuir ou desvalorizar sua dor.

Se perceber um amigo ou familiar com essa possibilidade precisamos o orientar a procurar ajuda profissional. Ajuda de um qualificado profissional da saúde.

A matéria enviada pelo médico psiquiatra, João Paulo Branco Martins nos lembra: “Erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, contribuindo para a formação de um estigma em torno da doença mental e do comportamento do suicida. O estigma resulta de um processo em que as pessoas são levadas a se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas”.

Não cabe a nós julgar quem atenta contra a própria vida, em vez disso podemos trabalhar nossos conhecimentos através da compreensão e empatia.


Eis os desafios: Falar sobre o assunto e saber o que falar!

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