“Quem dera se por algum poder o dom fosse nos dado de olhar
para nós mesmos assim como somos olhados; de quantos erros seríamos poupados”.
Frase de um poeta escocês.
Ponderar, refletir, avaliar, pensar. Quantas coisas teríamos
feito ou deixado de fazer se ponderássemos. Não podemos voltar no tempo, mas
podemos aproveitar o presente.
Uma boa semeadura agora pode render frutos amanhã. O
contrário é verdadeiro.
Além da interessante frase ali no início vale lembrar outras
reflexões.
“Um homem queria muito vender seu sítio. Encontrou o poeta
Olavo Bilac (1865-1918) na rua e pediu para ele escrever um anúncio para o
jornal. Não via a hora de se livrar daquele maldito sítio que só lhe dava dor
de cabeça e despesas. Pensava na alegria no dia em que comprou o sítio e agora
imaginava a alegria do dia da venda”. Eis o anúncio da venda do sítio:
“Vende-se encantadora
propriedade onde cantam os pássaros ao amanhecer do extenso arvoredo; cortada
por cristalina e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol
nascente oferece a sombra tranquila das tardes numa bela varanda”.
Quando Bilac encontrou o homem na rua, meses depois,
perguntou se havia vendido o sítio. O dono do sítio leu o anúncio de Bilac e
ponderou, refletiu. Pela primeira vez em anos viu o sítio daquela maneira. Mais
do que quando o havia comprado. Ele disse a Bilac:
- Nem pense nisso. Quando li seu anúncio percebi a maravilha
que tenho!
Já em uma das crônicas de Luis Fernando Veríssimo, um pai
foi levado à ponderação.
A filha de 13 anos se aproxima do pai e pede um biquíni
novo. O pai diz que a filha havia ganhado um biquíni no verão passado. A filha
ponderou que havia crescido. O pai deu dinheiro à filha e disse:
- Tudo bem, tudo bem. Pegue esse dinheiro e compre um
biquíni maior. A filha pondera:
- Maior não, pai. Menor!
Quando nós pais ponderamos aprendemos ou nos assustamos.
Ponderar e refletir são especialmente importantes hoje em
dia. Num momento de “doutores em tudo que não entendem de nada”, é sábio ter
uma opinião baseada em fatos, estudos, pesquisas, ouvir outras opiniões, mesmo
as divergentes.
“Eu acho que é assim ou deveria ser assado”, não é opinião
com base sólida.
O analfabetismo funcional – saber ler palavras em silêncio
ou em voz alta, mas ser incapaz de compreender o verdadeiro sentido do que foi
lido – não permite ao leitor formar uma boa e relevante opinião.
O velho ditado: “Em terra de cego quem tem um olho é rei”,
faz muito sentido.
Vale a pena estudar e questionar. Isso nada tem haver com
brigas, violência ou falta de respeito com opiniões diferentes da nossa.
Desde o pai, inocente, que achava que a filha dos 13 para os
14 anos queria um biquíni maior e o homem que queria se desfazer de algo que
sem saber poderia lhe trazer muita satisfação; entendemos que ponderar é
preciso. E o efeito positivo costuma vir quando ponderamos antes de decidir e
agir.
Se acho meu trabalho ruim e frustrante. Ou considero que a
esposa ou marido alheio é bem melhor. Que o filho do amigo é exemplar e não o
meu. Se julgamos que outro país é o melhor do mundo e se pudéssemos iríamos
para lá. Se tudo isso fosse verdade estaríamos prontos a encarar e conviver com
tais mudanças?
O poeta escocês que me foge o nome disse algo intrigante. Se
conseguíssemos olhar para nós mesmos assim como somos olhados. Será que os
erros seriam mesmo evitados?
Cabe aqui uma boa ponderação!
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