quinta-feira, 28 de julho de 2016

Elas por eles


Machismo ou feminismo, o que mais interfere de maneira negativa nos relacionamentos?

Que ambas interferem não é novidade. Novidade pode ser ouvir, escutar e entender o significado de: feminismo e machismo. E igualmente importante; o que as pessoas têm em mente ao usar essa expressão.

Diz o “velho amigo dicionário” que machismo é a atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de diretos de homens e mulheres.

E o “velho amigo” nos diz que feminismo é o movimento oposto ao machismo.

Uma coisa é certa: É um pouco menos perigoso andar num campo minado do que falar sobre isso.

Machistas não assustam ninguém. Já com as feministas pode ser diferente. Será?

Quem não conhece ou conheceu um machista? Ou será que há uma inversão no entendimento da palavra – machista? Quem trabalha ou já trabalhou com vendas sabe que na maioria dos casos a mulher é que dá a palavra final. É muito comum ouvir um homem dizer antes de uma decisão: Tenho que falar com a patroa. Ela é quem manda. Ou será que ele (nós), dizemos isso só para fugir da responsabilidade. Tipo: ela é quem decide, não tenho nada haver com isso.

O cara mandão pode no intuito de confirmar o quanto manda na mulher perguntar a ela:

“Lá em casa quem manda sou eu, não é mesmo querida?”

Já falei para alguns amigos: Tem homem que não manda em casa e tem homem que mente.

Mandar em casa não é o caso. O caso, os direitos, o respeito e a compreensão, sim.

De mãe para filho e de pai para filha.

 Ainda existem mulheres que querem ter um filho “garanhão”. Existem também os machões que querem um filho “garanhão”, mas não com a sua filha. E aquelas mães orgulhosas dos filhos. Quando o filho vai bem no colégio ou conquista algo maravilhoso, ela diz: Ah, esse é meu filho! Quando o filho (a) apronta algo de errado, ela diz ao marido: Olha só a nota que teu filho tirou... Olha só o que tua filhinha querida fez!

E a história da mulher que diz para filha que já está mais do que na hora de o genro comprar a máquina de lavar, afinal de contas, sua filha não é escrava para lavar roupas no tanque. Já para o filho a mesma mãe diz: Não vá se meter em dívidas só porque a tua mulher (nora) quer uma máquina de lavar. Lavei roupas no tanque por anos e não morri por isso.

As mulheres sofrem com o machismo imbecil que ainda existe. Questões salariais, por exemplo. Há homens que falam das mulheres não apenas as rebaixando, mas as encarando como puro objeto sexual. Alguns atrasados (homens e mulheres) defendem que mulheres são responsáveis por estupro porque se vestem de maneira provocante. “Coitadinho do estuprador, foi levado à tentação, ela estava quase nua e ele não aguentou. Quem manda se vestir assim”.

Absurdos como esses parecem piadas de mau gosto, mas não são, há quem pense assim.

Para nossa classe de “machos dominantes” a coisa não anda muito boa. Elas estão no poder.
Uma palavra, um berro ou mesmo um olhar atravessado diz tudo.

E quanto a dividir as contas? Isso é simples. Pelo menos para quem é razoável.

Homens têm chorado em filmes de romance “água com açúcar”, tipo: Como eu era antes de você.

 Machos têm beijado e expressado amor e carinho pelos filhos, pais e claro, esposa.

Eles estão se cuidando mais. Apontam para uma atitude de aproximação.

Nós podemos estar um pouco ou bem mais sensíveis. Deem espaço, tempo, ouvidos e verão um machão ignorante ou machão disposto a conversar, se abrir e ouvir.

Mas e elas, o que as mulheres parecem querer?

Elas querem carinho, atenção, beijos, abraços, amassos e acima de tudo, querem ser ouvidas.

Se passarmos por esse terreno minado sem pisar no lugar errado é porque tivemos coragem e cuidado. Chegamos ao outro lado e vimos que é possível olhar de – outro lado e por outro lado. 

Opostos, mas num mesmo terreno, cheio de bombas e com muitas opções de terreno seguro.


Se cheguei ao final desse texto (desse campo delicado) sem te deixar irritada ou chateada, bravo ou indignado, me disponho a atravessá-lo outra vez. É um caminho que vale a pena. Senão fica assim: 
Elas por eles, eles por elas e seguimos essa estrada tão perigosa e única. 
Nossa convivência!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Breves equívocos


 Por volta das 17:00h seu Valdemar está assistindo televisão quando toca o telefone:

- Alô. Boa tarde!

- Boa tarde, vô. Tudo bem?

Seu Valdemar tem 23 netos. Conseguir lembrar o nome de cada um deles é desafiador, quanto mais reconhecer pela voz, afinal de contas, o vovô tem 80 anos.

Seu Valdemar pensou em, Eduardo, Vinícius, Ricardo, Thiago, Marcos, Mateus, Natã, Victor, Guilherme, Lucas; quem seria? Decidiu; só pode ser o Lucas. Mas por via das dúvidas, chamaria o Lucas de, meu neto. Seu Valdemar, depois de alguns segundos de reflexão, segue a conversa:

- E você, meu neto, como vão as coisas?

- Estou bem vô. Com saudades do senhor. Desculpe não ter passado aí nas últimas semanas, além da correria ando com muita tosse.

Seu Valdemar ficara preocupado com o neto, Lucas, porque ele falava quatro ou cinco palavras e já tossia. O pobre neto devia estar muito gripado, pensou o avô. Seu Valdemar segue o papo com o neto:

- E seus pais, estão bem?

- Ah, estão bem sim. Com saúde e trabalhando bastante. Pediram que eu mandasse um abraço ao senhor.

- Obrigado, meu neto. Mande outro a eles.

- E o vô, como está de saúde?

- Estou bem. Claro, com 80 anos não tenho do que reclamar.

- Está sozinho em casa, vô?

- Sim. Tua avó saiu faz tempo e ainda não voltou.

 Agora o rapaz do outro lado da linha sentira um calafrio. Um aperto no peito. Sua avó havia morrido há dois anos e não sabia nada sobre o avô ter se casado; ainda mais dizer: sua avó saiu. Imaginou que pudesse ser Alzheimer. De qualquer maneira não iria se aprofundar no assunto. Pobre do avô, aguardando o retorno da esposa que havia falecido havia dois anos.
O avô retomou a amistosa conversa:

- Meu neto, estou preocupado com essa tua tosse. Já tomou algum xarope?

- Eu até tomaria se fosse só gripe, mas essa tosse é do maldito cigarro. Está acabando comigo, são 8 anos fumando.

Dessa vez foi seu Valdemar que ficou pasmo. Ele tem 11 filhos e 23 netos, nenhum de seus filhos e netos jamais fumara. Chegou a cogitar: Será que estou tão esquecido? Meu Deus, e se for àquela doença que a pessoa esquece tudo, como é mesmo o nome? Resolveu aconselhar o neto, e dessa vez o tratando por nome para mostrar preocupação e firmeza:

- Lucas, por favor, te cuida. Pare de fumar, por mais que seja difícil!

O rapaz, perplexo, respondeu:

- Lucas? O senhor me chamou de Lucas? Meu nome é Gustavo. Sou filho do Reginaldo e da Clarice. 
Vô Antônio, o senhor está bem?

- Antônio? Você me chamou de Antônio? Meu nome é Valdemar e não tenho filho ou filha chamado Reginaldo ou Clarice!

- Perdão. O senhor me desculpe. Liguei o número errado!


quinta-feira, 14 de julho de 2016

O monstro e o silêncio


Ela tinha apenas 10 anos de idade e como a maioria das meninas tinha sonhos.

As noites dela poderiam ser embaladas por sonhos e até por pesadelos; quase todos passam por isso. 

Bons sonhos trazem prazer durante o dia. Pesadelos nos fazem acordar assustados e angustiados, mas param por aí. Para um pesadelo comum basta um copo de água ou um abraço afetuoso.

Uma criança deveria poder contar seus pesadelos. Mas  não esse. Por que não? Ele as acompanha mesmo quando estão acordadas. Eis o problema: Não compartilhar, não contar, não ser ouvido.

A menina de 10 anos não mais podia dormir tranquila. Recebia durante a noite a visita de quem deveria passar por ali para contar uma bela história, cantar, orar, beijar e abraçar com ternura e respeito. Mas não há uma bela história, nem um canto ou uma oração, a não ser aquela tentativa de orar ou rezar, interrompidas por beijos e abraços nada desejados, nada afetuosos, nada paternos.

O forte hálito e respiração ofegante sobre seu rosto. Uma barba que arranha sua suave pele. Uma mão toca suas partes íntimas de maneira a não fazer barulhos, não chamar a atenção. Ei, silêncio, tem gente perto. Não há delicadezas nem pudor. Seus órgãos genitais são invadidos pelos dedos do mesmo homem que aponta e diz: “Faça isso ou aquilo... não volte tarde... lave a louça”.

Os dias passam rápido demais. As noites parecem não ter fim. Lá vem ele. Homem confiável. Pai trabalhador. Vizinho respeitado. Tio bem vindo a casa. Avô maduro e experiente. Líder religioso; um homem de deus. Quem acreditaria?

Ele vem todas as noites. Sua mão na vagina e nos seios de menina. Seu membro sexual faz parte do ato. Ele o coloca onde quiser.

Ela já relutou. Acumulou marcas de vários objetos; seja um garfo ou um cinto. Cicatrizes aparecem, mas ninguém vê.

Ninguém nota. Ninguém pergunta. Olhem pra mim. Olhem pra mim. Não aguento mais, é ele.
Não vão acreditar. Mas é ele o meu monstro amante por quem não me apaixonei. Não é meu príncipe encantado.

Se passaram 7 anos. A menina já está com 17. Ele continua transformando noites em pesadelos. 

Gritos na mente e no coração não podem ser ouvidos por qualquer um.
 Ninguém pergunta. Ninguém percebe. Dou gritos a troco de nada? Como de tudo e não quero fazer mais nada? Estou pedindo socorro. É ele. O monstro amante me tirou até a voz. Ele mora ao lado.

A menina enfim fala. O monstro é covarde. Ele acaba com a própria vida. Mas antes de tirar a sua quantas vidas ele destruiu?

Quem é ele? O pai, o padrasto, o tio, o avô, o melhor amigo dos pais, o padre o pastor?

Pode ser qualquer um. É no mínimo inimaginável os efeitos psicológicos sobre quem passa por abusos sexuais. Dizem que no Brasil são 20 crianças por dia, com menos de 9 anos de idade.

E as vozes silenciosas abafadas pelo medo? E os gritos por socorro transformados em rebeldia?

A internet está farta disso. Nas casas e até nas igrejas. Uma dor tão forte e nenhum grito.

Claro, eles ameaçam. Dizem para suas pobres e indefesas vítimas: “Se tu contares vou matar teu pai, tua mãe, tua família”. “Achas mesmo que vão acreditar em ti?”. “Vai dizer que não gostas...?”.

 Na família se custa a acreditar.

 Quando um líder religioso é desmascarado será que vai ser preso ou é transferido para abusar de crianças em outros lugares?

Será que aconteceria com um dos meus? Só acontece os outros. O silêncio releva outra coisa.

As crianças estão bem perto. Monstros também. O silêncio que as cala fortalece aos monstros.

Campanhas são feitas, mas são aproveitadas? O site: www.jw.org  criou um vídeo de menos  de dois minutos , altamente instrutivo, com o tema: Proteja seus filhos.


É tempo de gritar, é tempo ouvir e acima de tudo, é tempo de agir!


O silêncio ainda impera e o monstro pode estar ao lado!

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Entrevista ao Bom Dia Santa Catarina - RBS TV. Sobre o livro - Um sonho de menino. Romance. A história de um menino relembrando a luta e os sonhos da sua infância, a cura do pai, alcoolista!

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Os que trocam o amargo pelo doce


Uma das máximas no jornalismo seria considerar como notícia de destaque não o fato de um cachorro morder um homem, mas sim um homem morder um cachorro.

Lógico que essa ilustração serve para demonstrar que notícia é o incomum.

De certa maneira as coisas que se tornaram comuns são justamente, atitudes, gestos, comportamentos, inclinações, expressões de mau gosto, má educação, agressividade e violência.

Atitudes negativas se tornaram a ordem do dia; o que parecia incomum há anos ou décadas hoje não espanta mais.

Hoje quando alguém é honesto ou educado é notícia certa. Se for as duas coisas é chocante.

 O que há de surpreendente em uma pessoa ajudar um deficiente físico?

Como podemos nos impressionar ao ver alguém educado?

Como pode ser notícia o fato de alguém devolver uma carteira com dinheiro dentro?

O que leva um juiz ser considerado louco e inadequado?

Por que uma pessoa que diz que vai se casar virgem causa espanto? Ela é normal?

Alguém que é casado e leal ao marido ou esposa passa uma impressão estranha?

Como é encarado alguém em cargo de autoridade que faz o que tem de fazer?

Por que um jornalista imparcial é admirado?

Uma sociedade que diz: “Ele rouba, mas faz. Todos roubam, mas esse pelo menos faz alguma coisa”. “Achado não é roubado”. “A ocasião faz o ladrão”.

Se partirmos do princípio que desde que faça algo de bom não importa ser ladrão; logo diremos a uma mulher que apanha do marido: “Mas ele é bom pai, trabalhador, tua mãe adora ele, não deixa faltar nada em casa; só te dá uns tapas quando bebe”.

A ocasião não faz o ladrão, antes revela o ladrão, senão todos nós seríamos ladrões em potencial, apenas aguardando uma oportunidade.

Quando quem merece um troféu é apontado como louco, bandido ou indesejável é porque a coisa já está feia demais.

A mesma polícia tão criticada é a primeira a ser chamada na hora do apuro. Não são chamados para um café, só para resolver problemas. Claro que é sua função. Mas e o reconhecimento a atos de bravura que não são raros?

As palavras: “Os que trocam o amargo pelo doce e o doce pelo amargo, os que inocentam o culpado em troca de suborno e negam justiça ao justo; os que dizem que o bom é mau e o mau é bom”, estão escritas há uns 3 mil anos. Bíblia. Isaías 5: 20-23. Essas atitudes são vistas hoje por nós em quase todas as esferas da vida. Escola, trabalho, órgãos públicos, privados, religião, mídia, e nas próprias casas, no seio da família.

Só falta mesmo uma pessoa, louca ou não, morder um cachorro e trazer um tema incomum.

Num momento de troca e inversão de valores quem será mais ingênuo, quem crê em lobisomem e no super homem, ou quem vê melhoras a curto e médio prazo?

Será que há coisas boas acontecendo e são pouco divulgadas?

Talvez dependa também do interesse de quem consome as notícias. Se é verdade que somos o que consumimos podemos treinar nosso “paladar intelectual”. Que o doce seja doce e o amargo o que realmente é.

Um importante detalhe é que nós como seres humanos somos a principal matéria prima que leva a produção de ações e que viram notícia, sejam elas doces ou amargas!