quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Arte e epifania


Que filme, música, peça de teatro ou notícia te fez sentir mais leve, mais humano, mais solidário ou sensível?

Que situação te fez repensar a maneira de encarar a vida, as pessoas e seus próprios objetivos na vida?

Em que momento pensou que poderia ser mais tolerante, aceitar, perdoar ou que deveria ter perdoado ou agido de maneira diferente?

A palavra epifania está diretamente ligada à religião (revelação), mas também tem uma aplicação e explicação na literatura.

Quando nos deparamos com uma cena de filme, peça teatral, uma leitura ou música e esta nos faz rever nossa vida e conceitos produzindo em nós um estranhamento; isto é epifânico.

Talvez um problema desse sentimento especial seja a sua durabilidade.

Acontecimentos que nos impressionam como as Paralimpíadas nos levam a refletir e a fazer mudanças, mas podem ser efêmeros ou passageiros.

Alguns breves exemplos de fatos e notícias que talvez causaram forte impacto: Quem de nós ficou surpreso e emotivo com a trágica morte de Ayrton Senna? Foi no dia 1 de maio de 1994. Isso faz 22 anos e até hoje lembramos. Mas o que realmente mudou em nossa vida pessoal?

A tragédia com o ator Gerson Brenner, vítima de bandidos que o balearam e o deixaram numa cadeira de rodas em 1998. O acidente com o ator Christopher Reeve, o super homem. Vítima de uma queda de cavalo em 1995 ficou tetraplégico e faleceu em 2004 aos 52 anos.

O ataque às torres gêmeas, World Trade Center, em 11 de setembro de 2001 deixou o mundo perplexo. Que diferença faz hoje?

Mais recentemente tivemos a trágica morte do ator Domingos Montagner.

Quantos comentários. Quanto lamento. Quantas reflexões. Haverá mudanças em nossa vida?

O último filme que assisti e me causou a epifania foi – Tempo de Despertar – de 1990 com Robert De Niro e Robin Williams.

É verdade que devido a gostos e sentimentos pessoais não nos emocionamos de igual maneira e nem com as mesmas cenas de filmes ou livros.

Falar ou lembrar tragédias com certeza não é produtivo ou animador.

Bom seria tirarmos lições práticas dessas cenas e acontecimentos.

Quando estava prestes a começar esta crônica perguntei a uma senhora qual foi seu momento “de epifania”. Ela disse que foi o infarto que sofreu. Fez mudanças na vida, na maneira de encarar a vida e viver a vida.

Algo muito bom é saber que não precisamos passar por uma tragédia para valorizar a vida e as pessoas a nossa volta.

Lamentar a morte de alguém famoso é normal. Mas e aqueles nossos vizinhos, ex vizinhos e parentes que sofreram ou sofrem dificuldades e não recebem a mesma atenção de um famoso?

Lembrei uma expressão interessante: “Se alguém é apenas ouvinte... é semelhante a um homem que olha seu rosto num espelho... vai embora e esquece como ele é”. Bíblia. Tiago 1:23,24. Notarmos que há campo para melhora e não dar bola é lamentável.

Uma música também me vem à mente: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer...”.

Existe algo de proveitoso no processo de epifania na literatura: Deixar a emoção de momentos fazer a diferença. Olhar mais a natureza a nossa volta. Meditar na maravilhosa criação. Demonstrar mais e melhor nosso amor e sentimentos enquanto há tempo. Perdoar enquanto quem espera por isso ainda pode ouvir; os mortos não ouvem.

Literatura é comunicar através das palavras, a arte da palavra. Efeitos como percepção e emoções são compartilhados.

Se algo mudará ou não depois de certas cenas emocionantes dependerá de nós.

Caso contrário vamos continuar nos emocionando com as Paralimpíadas, lindas cenas de filmes e ótimos livros, mas vamos nos levantar e continuar naquela mesma “estrada” cheia de sentimentalismo e sem reação positiva!


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