Dona Eugênia estava muito doente. Paulo, um de seus quatro
filhos que trabalhava numa empresa de manutenção de elevadores andava muito
deprimido. Aos 50 anos o alemão forte e durão não escondia o carinho e a
preocupação com a mãe internada havia três semanas.
No final da tarde de uma terça-feira, Antônio, irmão do
Paulo ligou do hospital para dar notícias sobre dona Eugênia.
Seu Victor, um dos donos da empresa atendeu ao telefone e
ouviu a notícia. Com receio de contar a Paulo aproveitou que seu filho Otávio
acabara de chegar e disse:
- Otávio, me faça um favor. Tenho um compromisso, um cliente
para visitar, então não se esqueça de dar um importante recado ao Paulo assim
que ele chegar.
Otávio, curioso, perguntou qual o recado e seu Victor
respondeu enquanto saia:
- Ah, claro. Avise ao Paulo que a mãe dele morreu. Acabaram
de ligar do hospital.
O pai de Otávio saiu rápido como se fosse o super homem.
Otávio sentiu que havia uma bomba em sua mão, ou em sua boca. Como dar a
notícia a Paulo. Primeiro nunca havia dado esse tipo de recado a ninguém. E
ainda por cima, estava acompanhando a tristeza e o otimismo de Paulo quanto à
recuperação de sua mãe.
Otávio tentou ensaiar como daria a notícia. Pensou em várias
maneiras. Ou daria a notícia de forma direta, sem rodeios, ou se o prepararia.
De repente, Paulo entra no escritório cantarolando. Otávio se aproxima e diz:
- Oi Paulo. Eu preciso te dar uma notícia – Paulo dispara
seu comentário:
- Já sei. O elevador do edifício João Moraes pifou outra
vez. Já imaginava.
- Não Paulo. Na verdade é outra coisa.
- Ah, teu pai não se lembrou de deixar o vale. Poxa eu ia
precisar. Fiquei de levar umas coisinhas pra minha mãe – Otávio se enche de
coragem e diz:
- Não Paulo. Não é isso. É que... É que tua mãe morreu.
Ligaram do hospital agora pouco.
Paulo caiu em profundo choro. Otávio não resistiu e chorou
muito ao lado de Paulo.
Otávio oferece ajuda, carona, qualquer coisa que possa
fazer. Paulo sai chorando.
Quando chega aos prantos ao hospital encontra suas duas
irmãs e seu irmão. Paulo chora copiosamente. Os três irmãos não entendem o
desespero de Paulo e tentam o acalmar.
Seu irmão, Antônio, coloca a mão no ombro de Paulo e diz:
- Calma meu irmão. Vai ficar tudo bem. Ela está descansando
agora.
Suas irmãs dizem:
- Seja forte Paulo. Quer ir vê-la? Mas não faça barulho.
Paulo entra no quarto sem entender o porquê não fazer
barulho diante o corpo da mãe.
Ele chora alto e suspira. Seus três irmãos entram no quarto
e dizem para Paulo se acalmar. Lembram a Paulo que a mãe precisa descansar...
- Me deixem chorar, mostrar a dor que estou sentindo –
argumenta Paulo e completa:
- Minha vida toda tentei ser forte, durão, mas agora, agora
não posso aguentar.
Ele sai do quarto e dona Eugênia pergunta com sua voz enfraquecida
pela doença o que está acontecendo. Os filhos explicam que Paulo está
desesperado. Dizem à mãe que não era para ele estar assim, pois fazia poucas
horas que tinham ligado para empresa onde Paulo trabalhava e deram a notícia
que a mãe havia passado para um quarto melhor. Que estava num lugar melhor e
finalmente havia descansado. Dona Eugênia pede para Paulo voltar ao quarto.
Antônio se aproxima de Paulo e diz que ele deve entrar outra
vez. Paulo entra com os olhos cheios de lágrimas, mas dessa vez mais forte.
Ele fecha os olhos, segura na mão direita de sua mãe e diz:
- Mãe, há tantas coisas que eu queria ter dito, mas eu nunca
tive coragem. Eu a amo muito.
Quando Paulo abre os olhos dona Eugênia está olhando para
ele. Paulo passa a mão sobre seus olhos para fechá-los. Ela os abre outra vez e
diz:
- O que está havendo meu filho?
Paulo quase tem um infarto. A mãe morta havia ressuscitado
ou ele estava tendo uma alucinação?
Ela diz com sua voz fraca:
- Filho, não fique assim. Você tem que se preparar. Estou
morrendo, tenho pouco tempo, seja forte.
Paulo ainda confuso conversa com a mãe por uns 30 minutos.
Ele sai do quarto e percebe que houve um sério erro na notícia sobre a morte de
sua mãe, mas não conta nada a seus irmãos que ficam sem entender o desespero de
Paulo.
No dia seguinte, quarta-feira, logo cedo, Otávio chega à
empresa e pergunta a seu Valério, sócio do seu pai:
- Bom dia, seu Valério. E então, como está o Paulo? Onde
será o enterro?
Seu Valério levanta-se assustado e pergunta:
- O que tem o Paulo e que enterro? Você está louco?
Seu Valério explica que Paulo saiu cedo para consertar o
elevador do edifício João Moraes. Não havia ocorrido nada com a mãe de Paulo.
Ao longo do dia se esclarece o mal entendido. Ao telefone os
irmãos de Paulo disseram ao seu Victor para avisar ao Paulo que sua mãe estava
muito desconfortável num quarto ruim, e agora estava num lugar melhor, num
quarto melhor e finalmente havia descansado.
Seu Victor entendera tudo errado. E agora, como encarar o
Paulo no final do dia?
Otávio saiu mais cedo para não se encontrarem. Não sabia o
que dizer e como se desculpar.
Logo que ele sai toca o telefone. Seu Valério atende. É
Antônio, irmão de Paulo. Ele diz que sua mãe acabara de falecer. Seu Valério
diz que sente muito e oferece toda ajuda possível.
Quando Paulo chega à empresa seu Valério diz:
- Paulo, é sobre sua mãe. Seu irmão ligou e disse... – Paulo
interrompe seu Valério com seu jeito bronco e diz:
- Já sei, pode ficar tranquilo. Já entendi tudo. Vou lá para
o hospital.
Seu Valério fica surpreso com a força e resiliência de Paulo
diante do ocorrido.
Paulo chega ao hospital cantarolando e com um sorriso
tranquilo. Ele vê os irmãos chorando muito e diz:
- Calma aí pessoal. Precisamos ser fortes. Quero ver minha
mãe.
Os irmãos não entendem nada. No dia anterior com a mãe viva
ele estava desesperado, agora com ela morta estava cantarolando e os acalmando.
Paulo entra no quarto e começa a conversar com a mãe.
Fala por uns 20 minutos.
Então Antônio entra no quarto, coloca a mão no ombro de Paulo e diz:
- Paulo, eu estou feliz e orgulhoso por você estar
conseguindo dizer a ela coisas que gostaria de ter dito enquanto ela estava
viva.
Paulo fica intrigado
e diz:
Como assim quando estava viva?