quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O rapaz que quase amou. Parte II (História real) Parte I está no blog.

Franco foi atendido por bombeiros naquela manhã de inverno de 1983. O jovem de 14 anos gritava desesperadamente. Foi levado a um hospital em Florianópolis onde foi prontamente medicado.
A família de Franco não tinha condições financeiras de bancar um bom tratamento de modo que um político e apresentador de televisão local colaborou.
Ao acordar, Franco, lidou primeiro com a dor física, viria dor maior a seguir.
Quando pôde finalmente ver suas pernas, entrou novamente em desespero. As pernas que serviam para lhe fazer correr, brincar, jogar bola, agora estavam assoladas.
Franco na sua inocência pensou que seria melhor ver as marcas do chicote, afinal de contas, elas doíam muito, mas em poucos dias voltavam ao normal.
Os pensamentos tornaram-se inquietantes. Agora pensava que nunca mais usaria um calção ou uma bermuda, não deixaria que alguém visse suas pernas daquele jeito.
A irmã mais velha na tentativa de lhe animar, disse que o político e apresentador de televisão, pagaria uma viagem a Curitiba onde haveria ótimo tratamento. A única viagem de avião da vida de Franco seria por um lamentável motivo.
O tempo passou. A dor física passou. Mas a aparência das pernas não melhorou.
Já havia se passado seis meses e Franco tentaria voltar a viver como antes. Apenas tentaria. O ano letivo estava perdido. Os amigos da rua em que morava foram solidários, companheiros. O pai, o velho do chicote, não se tornou sensível com a fatalidade com o jovem filho. Apenas Franco ganhou sua “carta de alforria”, estava dispensado do chicote, os cinco irmãos não.
Aos dezesseis anos, Franco, continuava com sua luta diária. A luta, o momento mais difícil do dia era a hora de tirar a roupa e olhar as pernas em uma espécie de carne-viva.
A hora do banho era uma tortura. Não mais com a dor física, mas a angústia de olhar como havia ficado suas pernas. Às vezes tomava banho com olhar fixo, à frente, se esforçava a não ver a triste realidade. Era comum chorar muito naqueles momentos.
Franco estava decidido a jamais deixar que seus irmãos o vissem assim. Apenas a querida mãe podia lhe ver e tentar lhe consolar. A mãe de Franco elogiava seus olhos, seu sorriso. Dizia que ele ainda estava vivo e por isso devia se esforçar em ser feliz. Franco não retrucava, mas sabia que não seria bem assim.
Agora já com dezoito anos, Franco passa pelo que normalmente é dos mais deliciosos momentos da vida de um jovem, a primeira paixão, o primeiro amor. Seu nome transparecia sua beleza. Letícia. Era este o nome, era essa a mais bela imagem em sua mente. Franco voltara a sonhar. Por certo tempo, Franco esquecera sua tragédia, estava vendo o mundo de outra maneira.
Uma noite o sonho de Franco fora interrompido. Franco sonhava que estava num belo local, era seu casamento. Letícia aproximava-se em um vestido branco. Seus olhos e sorriso eram a visão do paraíso. No sonho de Franco, o local aberto com amigos e o som da música mostravam que sua mãe tinha razão. Ele seria feliz. Franco teve o sonho transformado em pesadelo quando Letícia olhou em direção a suas pernas e demonstrou surpresa. Franco olhou e viu as pernas desnudas e todos muito assustados.
Franco acordou, sentou em sua cama e chorou por horas, acreditando que jamais seria possível ter uma vida normal com as pernas queimadas daquele jeito e que Letícia ficaria chocada quando as visse.
(Continua na próxima semana)

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