terça-feira, 20 de setembro de 2011

Longe de casa, mas não longe da dor

Certo dia atendi um desses meninos inquietos. Ele chorou desde o momento em que sentou na cadeira. Devia ter uns 4 anos, e pelos dentes amarelados se percebia que não era bem cuidado. Na verdade havia mais do que choro, ele pranteava, ele agonizava como se algo o perturbasse muito. O menino parecia desesperado. Logo soube que o casal que acompanhava o menino não eram seus pais. Eles eram da casa lar, ou abrigo para crianças retiradas de suas casas por maus tratos. Fizemos o possível para acalmá-lo sem grande êxito. Perguntei para as duas pessoas que o acompanhavam qual era sua situação em casa. “Era lamentável”, disseram. Surras, falta de comida; carinho obviamente nem pensar. Não vou ser generoso comigo, fiz uma pergunta “tola”:
- Por que ele chora tanto assim? Deveria estar aliviado por estar longe da tormenta!
Os dois bondosos funcionários da casa foram generosos comigo. Levaram em conta que meu raciocínio não fora maldoso. Disseram:
- É verdade. Em sua casa ele passa por coisas inimagináveis. Ele sofre demais por lá. Mas lá é a sua casa. Para ele é seu “porto seguro”. Prefere voltar para a “tormenta” só para estar perto dos “pais” - Criei imediatamente um quadro mental da vida daquele menino. Parecia um filme em minha cabeça em poucos segundos. O sentimento de impotência é terrível diante o sofrimento de uma criança. Ainda converso com pessoas que trabalham nessa área. Ouvi a poucos dias que no momento há crianças que não querem voltar de jeito nenhum para seu “lar”, seu “porto seguro”. Ficar atento a maus tratos contra crianças é importante. Denunciar quando necessário é fundamental. Parece mesmo que o único Governo capaz de solucionar também este problema é aquele que milhões de pessoas vêm pedindo. Que o Governo da famosa oração do Cristo alivie o sofrimento dessas tantas crianças. E nós, o que fazer? Não fechar os olhos a essa triste realidade talvez seja de ajuda.

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