quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Barbeiro sangue frio

Hélio sempre foi apontado pelos amigos e conhecidos como homem calmo, alguém da paz. Não havia puxado por seu pai, seu Homero, homem que não levava desaforo pra casa. Certo dia seu Homero encontrou numa intriga alguém que também não levava desaforo pra casa. A disputa entre os dois ficou notória na cidade do interior.
Hélio já havia visto o inimigo de seu pai. Já o inimigo de seu pai nunca tinha o visto, nem dera tempo de saber que ele era barbeiro na região. Numa tarde de sábado a briga entre o pai do barbeiro e seu inimigo intensificou-se. O tal sujeito puxou um 38 e disparou dois tiros contra seu Homero que caiu morto.
Passado o enterro, a policia seguia lentamente a procura do assassino de seu Hélio. Quase uma semana depois o matador querendo fugir da cidade pensou em mudar o visual. Queria cortar o cabelo e fazer a barba. Acabou entrando na barbearia de Hélio.
O barbeiro sentiu o estômago apertado ao ver o homem que matara seu pai há poucos dias entrar em sua barbearia. Lembrou então que não se tratava de um confronto, pois, o criminoso não o conhecia. O sujeito sentou e disse em tom firme e calmo:
- Cabelo e barba. Tenho que mudar a aparência.
O barbeiro ainda usava a velha e antiga navalha. Naquele dia estava no ponto. No ponto, pensou ele, de cortar mais do que uma barba cerrada. Enquanto cortava o cabelo do homem tentava não demonstrar raiva. Tentava não tremer as mãos.
Quando finalmente deitou a cadeira para lhe fazer a barba achou que aquele seria um momento crucial. Com o rosto espumado fazia com perícia a navalha correr-lhe o rosto.
Chegou a parar a navalha em seu pescoço por um instante sem que o sujeito notasse isso.
O barbeiro pensava em seu pai morto. Imaginava o sangue correndo pelo peito do homem se lhe cortasse a garganta. Seguiu com a navalha. Terminou o serviço. O assassino de seu pai estava de cabelo cortado e barba feita. Vivo. Hélio recebeu o pagamento. Seguiu-o a certa distância e chamou a polícia. O sujeito foi preso. Julgado. Cumpriria 18 anos de prisão.
Hélio sempre conta que fez a coisa certa. Mas seus amigos acham que suas palavras demonstram remorso.

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