domingo, 13 de novembro de 2011

Se não puder não convide

Por que às vezes falamos sim quando a vontade é dizer não ou dizemos não quando a vontade é dizer sim? Há pessoas que com facilidade dizem sempre o que pensam, seja o sim ou não. Seria coisa de gente indecisa? Ou seria o medo de desagradar? Seja como for errar no sim ou no não tem suas consequências. Assumir responsabilidades quando não podemos pode atrapalhar também a outras pessoas. Quando trabalhava como vendedor de purificadores de água passei por épocas de “vacas magras”. Num daqueles dias que tinha apenas o dinheiro da passagem de ônibus e para o almoço fiz algo que não deveria. Eu estava num ponto de vendas próximo a um restaurante. Por volta das 10:00h da manhã senti um cheiro irresistível de camarão. Fui rapidamente até o restaurante e perguntei que prato era aquele: “Bobó de camarão”, disse o funcionário.
Conferi o preço e em seguida abri a carteira. Havia ali o exato valor do cheiroso prato do dia. Minha esposa, na época minha namorada, trabalhava ali perto e costumava almoçar em casa. Eu a convidava para almoçar comigo e ela sempre, sempre, agradecia e ia almoçar em sua casa. (Há quase vinte anos era possível sair do Centro ao meio dia, almoçar em casa e voltar até as duas horas). Das 10:00h até ao meio dia o cheiro do bobó de camarão não me deixava em paz. Foram duas horas de uma agradável sensação de “está quase na hora”. Ao meio dia, minha namorada apareceu e me deu um beijo. Fiquei contente em vê-la, mas estava ansioso demais pelo ‘bobó”. Por educação, por costume, para agradar, seja lá pelo que foi, eu disse a ela:
- Almoça comigo? – Eu tinha certeza mais que absoluta de que ela diria como sempre, “não querido, obrigada, vou em casa”, isso eu pensei. Ela disse:
- Sim. – Pensei: Sim? Como sim? Sempre é não. Ela olhou para o restaurante e disse:
- Que tal aqui? Parece bom. O cheiro está ótimo – Lembrei do interior de minha carteira. Havia apenas para um almoço, apenas um. Eu jamais teria coragem de dizer isso a ela, não naquela fase do namoro. Ela virou-se para o restaurante e disse:
- Vamos! – Eu, contrariando meu estômago e paladar, disse:
- Não, aqui não. Não me parece bom – Arrumei minhas coisas, peguei em sua mão e disse:
- Vamos lá na lanchonete do ARS. Tem uma coxinha deliciosa – Ali, cada um comeu um salgadinho e bebeu uma coca-cola, e voltamos para o trabalho. Nos despedimos. Ela se foi e o cheiro do bobó de camarão ficou. Enquanto ouvia o som das louças sendo lavadas e o cheiro do bobó ainda pairando, disse a mim mesmo: Quando não puder não convide.

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