terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Consciência

Seu Pedro há tempo cria passarinhos; têm culeiras, canários e até um curió. Todos conhecem seu Pedro como homem de boa índole, seus filhos sentem orgulho. O barbeiro de seu Pedro tem apelido de passarinho, Culeira. O barbeiro que tem apelido de passarinho tem uma criação de canários do reino, brancos, todos brancos como a neve. Há um dos canários que encanta Culeira, é o seu preferido. Certo dia justamente esse canário fugiu, sumiu.
Seu Pedro enquanto trata seus passarinhos vê um lindo canário branco numa das árvores de seu grande quintal. Ele arma o alçapão. Alguns metros dali, Culeira, com a tesoura nas mãos pergunta a cada cliente que chega em seu salão:
- O seu Manuel, o senhor não viu um canário branco?
- Seu Lorival, por acaso não viu um canário branco, todo branco?
A resposta é sempre a mesma, todos lamentam, dizem que não viram.
Finalmente chega seu Pedro. Ele ouve a mesma pergunta. Sente um forte calor no peito e diz:
- Um todo branco, branco mesmo? Não, acho que não vi não.
Seu Pedro volta para casa, olha seus passarinhos e olha para um lindo canário branco, olha para o canário e lembra de um certo “Culeira”. Os dias custam a passar para seu Pedro. Ele lembra da história sobre a duração de um minuto. Um minuto é pouco, mas experimente estar do lado de fora do banheiro e apertado, um minuto parece crucial.
Dez dias se passam e seu Pedro volta ao salão de Culeira. Há quatro clientes aguardando além do que está na cadeira. Seu Pedro pergunta:
- O Culeira, teu canário é um todo branco, muito bonito e cantador?
Culeira diz animado:
- É isso mesmo seu Pedro! O senhor o achou?
- É Culeira eu achei, mas ele morreu, sinto muito- Culeira, triste, muito triste, diz:
- O seu Pedro, obrigado por ter avisado.
Seu Pedro chega em casa e sente-se muito mal com o que acabara de fazer, pior do que antes. Antes havia escondido a verdade, mas agora havia mentido, havia visto a tristeza nos olhos do barbeiro. Não importava quantos canários ele tivesse, todos eram importante para ele, e aquele canário parecia especial.
Seu Pedro volta ao barbeiro e novamente encontra o salão cheio, mesmo assim, diz na frente de todos:
- Culeira, eu menti pra você. Estou com teu canário desde o primeiro dia que ele fugiu. Achei que como você tem vários não se importaria tanto. Ele está vivo. Está no meu carro aqui em frente, me perdoe, vou buscá-lo – Ele entra com o canário. Culeira se emociona tanto em ver o canário como com a humildade e arrependimento de seu Pedro. Ele diz:
- Seu Pedro eu não só lhe desculpo como dou ele de presente para o senhor, por favor, fique com ele.
Seu Pedro conta a seus filhos o que aconteceu. Eles não ficam desapontados com o pai. Continuam dizendo que o pai é mesmo um homem honesto.

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