terça-feira, 27 de março de 2012

Família, doença, distância

Ainda bem que há tantas famílias realmente unidas. Unidas nas alegrias e nas tristezas, nos momentos difíceis. Tal como aqueles amigos que não se afastam quando um está doente. Apesar disso não são poucas as pessoas que reclamam das dificuldades que enfrentam ao cuidar do pai ou da mãe. Dificuldade esta pela falta de apoio dos demais irmãos. Dez filhos “viram em um ou dois” na hora de cuidar de pais doentes. Um amigo me contou que tem sete irmãos. Quando o pai foi vítima de um derrame passou a necessitar de muitos cuidados. Meu amigo era o único a dar banho, fazer a barba, levar o pai ao médico e etc. Foram mais de cinco anos assim. Trabalhava, cuidava da esposa e de dois pequenos filhos e também cuidava do pai que vivia ao lado da mãe. Um dia o pai morreu. O velório foi em casa. Os oito filhos se reuniram para chorar a morte do pai. Sete choravam desesperadamente. Como não é possível julgar, quanto mais sentimentos, ficamos apenas a pensar se o choro não seria também de remorso. Perto da hora do enterro chegou um líder religioso que faria as honras ao morto e consolo a família. Meu amigo, um homem de muita fé, espiritualizado, preferiu ficar do lado de fora da casa. Optou por sair da sala na hora. Havia crescido naquela casa. Na doença do pai estivera ali todos os dias, todos os dias cuidando carinhosamente do pai e da mãe. Uma “avalanche” atingiu meu amigo. Críticas de todos os tipos. Os irmãos diziam:
- Como pode, não tem respeito pelo pai!
- É mesmo, se gostasse do pai teria ouvido as palavras do líder religioso!
- Como pode ser tão “frio” com nosso querido pai?
Pior. Até sua mãe que vira o apoio de meu amigo abrigou os insensatos comentários.
Meu amigo juntou as lágrimas da dor da saudade do pai aos duros e injustos comentários de seus irmãos que não ajudaram a limpar o pai, trocar suas fraldas, dar banho, levar ao hospital. Mais de cinco anos. A cada vez que ouço alguém reclamar da falta de apoio em cuidar dos pais lembro de meu amigo. Depois da doença às vezes vem à morte e aí a disputa pelos bens. Quem fica com a casa? Há ocasiões em que o filho que viveu e cuidou do pai ou da mãe por anos e anos agora tem que deixar rápido a casa porque os demais querem a sua parte. A parte financeira. A parte do amor, da responsabilidade, da ajuda, já fora enterrada muito antes do pai ou da mãe.
Pobre do meu amigo pela sua perda, mas feliz por ter estado sempre ao lado dos pais. Hoje, chora só de saudades.

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