segunda-feira, 14 de maio de 2012

O mentirosinho do Cabral

Jefinho, como era chamado carinhosamente pelos colegas, escondia um segredo. Era um grande mentiroso. Os pais já haviam percebido e quando confrontados com a artimanha do filho, diziam: - Jeferson, Jeferson. Diga a verdade, é sua última chance – A mãe com as mãos na cintura e o pai com a cinta na mão. Jefinho, teimoso, dizia: - Mas é verdade. Lá no Cabral, colégio onde estudava, todos gostavam do Jefinho e tudo o que ele dizia era lei. Certa manhã Jefinho acordou com uma baita preguiça. Pensou em ficar em casa, ou melhor, na rua, brincando com os amigos que estudavam à tarde. Foi até a janela e viu que era um lindo dia. Céu azul. Sem vento. “Pra que ir a aula hoje?”, pensava Jefinho. Teve uma ideia. Foi à escola. Sentou e depois que bateu o sinal se debruçou sobre a carteira. Fingia estar dormindo. A professora chegou perto e disse: - O que houve Jeferson? Está com sono? - Não professora, não. Estou com muita dor de cabeça. - O que aconteceu? Será que comeu algo que não lhe caiu bem? - Não professora. Acho que foi a viagem. - Quem viagem, Jeferson? - É que morreu um tio lá no Paraná. O tio Irineu (o tio Irineu está vivo até hoje, passados 30 anos), e eu não queria perder a aula. Gosto muito da escola – Se fosse o Pinóquio a ponta do nariz teria chagado ao quadro negro. Mas a professora comoveu-se diante o esforço de Jefinho. Ela disse: - Vá para casa e descanse querido. - Não quero perder a aula! - Mas você vai sim! E lá se foi Jefinho. Feliz da vida. Só não saiu pulando para não chamar atenção dos coordenadores. Em casa e na rua fez a festa. Para os pais disse de modo convincente que haviam sido dispensados mais cedo. Reunião de professores. “Pena”, disse ele. Os pais ficaram desconfiados. Na outra semana Jefinho chegaria com outra história no colégio. - Pessoal, pessoal. Vocês nem sabem o que aconteceu. - O que Jefinho, o que aconteceu? – Perguntava a turma. - Meu pai ia viajar ontem e assim que chegou ao aeroporto seu avião decolou. Meu pai estava atrasado. A turma lamentou: - Que pena Jefinho. - É, que pena, Jefinho. Jefinho saiu com essa: - Pena? Pena nada. Assim que o avião decolou, assim que chegou lá no alto, explodiu. Morreu todo mundo – O espanto foi geral. As meninas quase choravam, os meninos diziam que o pai do Jefinho era um sortudo. Aquela turma não via TV e nem lia jornal, não iam saber que era mentira, pensava Jefinho. Certa noite Jefinho sonhou com um lindo galo. O galo cantava imponente por todo seu terreno. Ele chegou à escola e contou para turma sobre seu sonho. Disse que jogaria no bicho. Jefinho gostava dum joguinho de bicho. O que ele não gostou foi de ouvir que quase todos os colegas também jogariam no bicho. No galo é claro. Jefinho ficou enciumado. Não seria justo outros ganharem no seu palpite. Parou, pensou, e disse: - Pessoal, pessoal. Olha só. Eu sempre jogo no bicho e quando se sonha com galo se joga na cabra. - Na cabra? – Perguntaram. - É. Na cabra. No dia seguinte, assim que chegou ao colégio, ouviu a gurizada gritando: - Ai Jefinho. Valeu Jefinho. Tu é fera Jefinho – Ele não entendia, até que Juninho chegou com um bilhetinho na mão e disse: - A galera ta contente. Todo mundo ganhou no bicho, Jefinho - Jefinho perguntou: - Deu galo? - Galo? Galo nada, rapaz. Deu cabra, deu cabra na cabeça. Todo mundo ganhou. A gente sabe que sempre pode confiar em você, Jefinho.

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