quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Barbearia - Cabelo, dente e testículos



No dia 06 de setembro é comemorado o dia do barbeiro e a pergunta é: O que o amigo leitor já disse, ouviu, trouxe ou deixou com o seu barbeiro? (Abre-se aqui o mesmo convite às leitoras em relação ao seu cabeleireiro (a), ou manicure)

Aparentemente deixamos somente os cabelos e barbas cortados, mas na verdade deixamos e trazemos muito mais.

Quantas coisas do dia a dia, problemas, dúvidas, perturbações, alegrias e realizações já compartilhamos nas barbearias, caso tenhamos frequentado muitas, algumas, ou mesmo uma única?

Nas barbearias expressamos nossas opiniões e com educação ouvimos a dos outros; que espaço democrático!

Para os que pensavam que as barbearias estavam em extinção se surpreenderam.

As barbearias e barbeiros estão em constantes avanços, e que avanços. Se antes os barbeiros ofereciam cabelo, barba e bigode com o tempo passaram a prestigiar seus clientes com uma TV colorida, depois com TV a cabo. As coisas foram evoluindo e até ar-condicionado já havia em muitas barbearias. Mas não parou por aí; chegou a internet, agora computadores também estavam a disposição dos fregueses e dos barbeiros para seus mais diversos usos. E como o progresso não para muitos salões instalaram videogames para seus clientes. Chegamos a um momento em que as velhas e boas revistas, ainda que bem vindas aos salões, cederam lugar ao WI-FI. Pronto, agora cada um acessa aquilo que quiser e nem vê o tempo passar. A menos é claro, aqueles que preferem marcar hora para cortar seus cabelos, o que em muitos salões de barbeiros se tornou comum.

No entanto, seja pela crise econômica ou para se ter uma nova e ascendente profissão muitos estão fazendo cursos e abrindo sua barbearia, mesmo que já tenham sua fonte de renda. Se há poucos anos a maior “briga” na concorrência era o preço, hoje não é mais.

Hoje, há barbearias que transformaram a antiga e simples sala/salão de barbeiro em espaços de um novo “universo masculino”. Cervejas, mesas de sinuca entre outros atrativos fazem o homem moderno sentir-se em três lugares ao mesmo tempo: Em casa, no clube e na barbearia.

Mas uma breve visão ou passeio ao passado nos mostra incríveis histórias desses profissionais.

Conta-nos a história que já houve há vários séculos os - Barbeiros-cirurgiões.

Além de cabelo, barba e bigode outros serviços eram prestados pelos barbeiros; entre eles, a extração de dentes, além de sangria, tratar de ferimentos de soldados em guerra, entre outros serviços médicos. Agora, para aqueles que resistem a ir cortar os cabelos, seja adulto ou criança que tenha certa preguiça de cortar os cabelos, pasmem com o que os barbeiros também já cortaram.

No império Bizantino, Constantinopla, havia os - castrati. Homens castrados que tinham voz aguda que cantavam e encantavam seus senhores no coral de palácios e igrejas.

Mas foi na Itália, a partir do século XVI, que os castrati ganharam destaque. O Papa Sisto V baniu as mulheres de cantar em público. A igreja abria assim um caminho sem volta e sem escolhas. As amputações só eram permitidas pela igreja se fosse questão de vida ou morte.

Já se sabia que meninos castrados, preferencialmente antes da puberdade, cresciam e ficavam com vozes agudas; muito importantes nos corais. E como a igreja não permitia meninas no coral, a função ficava para os meninos. Geralmente órfãos, abandonados, ou de famílias muito pobres que entregavam pelo menos um filho para o conservatório da igreja em Nápoles.

Em alguns lugares se lia: “Qui si castrano rapazz”. (Aqui se castram rapazes)

E quem castrava? Entre eles os - barbeiros. Consegue imaginar aquele menino que não quer ir cortar o cabelo nem a “pau”, porque não tem paciência, ou aqueles adultos que não têm tempo ou não querem gastar? Isso para cortar os cabelos; imagine os testículos.

Eunucos a força para o bem do coral de igreja. Belas vozes às custas de partes que os meninos não tinham a opção de dizer: “Não senhor, é só o cabelo mesmo!”

Faz tempo que isso mudou, que bom. Hoje, vamos à barbearia para - cabelo, barba e bigode e os confortos dos modernos salões ou mesmo os mais tradicionais.

Uma coisa é certa, o convívio barbeiro/cliente e cliente/barbeiro vai muito além de cortar cabelos e barbas. Claro que há salões em lugares de grande circulação onde não há tempo para muita conversa e convívio, mas mesmo nesses locais há grandes histórias.

Portanto, quando for ao seu barbeiro, se for possível, deixe sempre alguns minutos para essa troca de experiências e boas discussões, afinal de contas, lá na barbearia tudo pode ser discutido desde que haja respeito de ambas as partes. E não é isso o que precisamos, trocar e ouvir novas ideias?

Digo de “cadeira”, na cadeira de barbeiro na qual escrevi essa crônica que nesses 21 anos de profissão que os salões e os barbeiros atravessam gerações e evoluem. Não cheguei a ser um - barbeiro-cirurgião, mas graças às inúmeras possibilidades e observação me tornei escritor, radialista, jornalista e continuo estudando e pensando: O que mais teremos pela frente além do - cabelo, barba e bigode? O que mais veremos nas modernidades de estilos de cortes e salões?

Uma coisa a de permanecer: Só há barbeiro com cliente, e só existem histórias se mantivermos vivo esse vínculo.

Quando for ao seu barbeiro deixe que a cadeira vire seu divã, seu barbeiro um amigo e tu serás sempre um bom companheiro. De um jeito ou de outro nossas vidas e histórias passam pela - Cadeira de barbeiro.

De preferência com o tema reformulado: Barbearia - Cabelo, barba e bigode!

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