sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Durão

Havia um barbeiro muito calmo e bondoso, para alguns até um tanto bobo.
O barbeiro tinha paciência com todo mundo o que irritava seu vizinho Gervásio que era um cara pávil curto, durão.
O barbeiro Zezinho não tinha boca pra nada, vivia engolindo “sapo”. Gervásio não levava desaforo pra casa, não tinha papas na língua.
Um sujeito que não conhecia essas duas figuras tão diferentes encontrou por acaso Gervásio. É que Gervásio tinha um carrinho de cachorro quente, por sinal um bom cachorro quente. Gervásio não fazia fiado. Tinha até uma plaquinha com os dizeres,
“fiado só acompanhado das tataravós”, ninguém o convencia de abrir uma exceção.
Mas o tal sujeito desconhecido tinha uma lábia sem igual. Depois de fazer perguntas e elogios ganhou a simpatia e a confiança de Gervásio algo tão difícil como rir assistindo Zorra Total.
Com o sorriso do durão Gervásio o tal sujeito comeu um cachorro quente completo e tomou uma coca-cola, para pagar amanhã, sem falta.
O Gervásio não sabia que o tal sujeito havia mais cedo naquele dia passado na barbearia do Zezinho. Para o barbeiro ele contou que não havia recebido e queria cortar o cabelo e fazer a barba e pagaria quando voltasse do banco. O barbeiro aceitou colaborar com o tal sujeito. Quando terminou o serviço disse ao sujeito que o ônibus passava bem em frente à barbearia. O sujeito olhou para o barbeiro e disse que iria a pé, pois, não tinha dinheiro nem para pagar o coletivo. O barbeiro com uma calma de dar raiva em quem visse ofereceu dinheiro para a passagem e o tal sujeito se foi.
Gervásio, durão como sempre ficou preocupado ao ouvir a história do barbeiro. Pensou: será que levei um golpe? Começou sua noite de trabalho no cachorro quente sempre olhando para os lados a espera do tal sujeito. Seu expediente findou e o tal rapaz não chegou. Na manhã seguinte Gervásio foi falar com Zezinho e ficou surpreso com a ingenuidade do barbeiro. Disse ao barbeiro “tu és um tolo” e acrescentou “eu é que não vou deixar assim eu pego ele”.
Pois o Gervásio deu uma de detetive e encontrou o tal sujeito que trabalhava como servente de pedreiro numa obra ali perto. Gervásio deu uma “dura” no velhaco ali mesmo. O rapaz se desculpou e disse que a noite passaria no carinho de cachorro quente e pagaria Gervásio, prometeu.
Gervásio foi até a barbearia de Zezinho e contou sobre sua conversa com o sujeito.
Na manhã seguinte o Zezinho estava curioso e assim que encontrou Gervásio perguntou:
-E aí? O rapaz veio? O Gervásio respondeu:
-O Zezinho ele veio sim. Que cara legal. Ontem ele esteve aqui levou três cachorros quente, uma coca-cola e uma cerveja e disse que vêm hoje a noite pagar tudo, sem falta.

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