segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Os olhos do filho

Eusébio sonhava conhecer o Pantanal Matogrossense. Fazia contas sobre quando poderia juntar dinheiro e fazer a tão esperada viagem. Recém casado e ainda sem filhos, Eusébio estava num bar depois de um dia de serviço bebendo com um amigo. Uma briga começa. Eusébio, na intenção de ajudar a apaziguar a briga aproxima-se. Depois de argumentar sem sucesso aproxima-se demais da espingarda de um dos homens. Um tiro é disparado. Partes do chumbo atingem os olhos de Eusébio que é levado ao hospital. Horas depois ele é informado pelo médico que ficou cego. Com certeza irreversível. Eusébio desespera-se. Semanas depois a notícia da esposa. “Estou grávida”. A emoção no dia do parto fora especial. Pegar o pequeno Julio no colo, sentir seu cheiro, ouvir seu choro, sentir o bebê acalmar-se em seu colo de pai era tão emocionante quanto angustiante o fato de não ver seu rosto. Ao seu lado Julio cresceu. Sempre apegado, sempre companheiro. Eusébio sentia-se orgulhoso em passear com o filho nas manhãs de sábado. Guiava-o com alegria muito embora por vezes o filho lhe apontasse uma pedra no caminho. As pedras no caminho de Eusébio não eram apenas aquelas das quais facilmente desviamos ou chutamos. A vida de um homem cego assim como a de um que enxerga encontra muitas pedras. Por vezes os deficientes visuais enxergam pedras e caminhos despercebidos pelos que pensam ter boa visão. Aos 45 anos de idade Eusébio já tinha o suficiente para a tão sonhada viagem ao Pantanal. Julio com 18 anos acompanhou o pai em seu sonho. Sonho agora real.
Dias depois, dentro de um salão, Eusébio conta com detalhes sobre sua viagem. Alguém com olhos bem atentos pergunta a Eusébio:
- Desculpe amigo. Mas o senhor é cego. Como sabe de tudo isso?
Eusébio riu e acomodou-se na cadeira de espera. Com os olhos fechados disse:
- Meu filho estava comigo. Me falou sobre as árvores. Contou das aves, aliás, um número quase incontável delas. Falou sobre as pessoas a beira dos rios e dos jacarés que ali estavam. Das árvores e folhas que raspavam em nossas cabeças. Via naquele momento tudo que havia sonhado. Cada detalhe meu filho confirmava e acrescentava. Aquele lugar é mais lindo do que eu imaginava –
Eusébio contou tantos detalhes que mais de 5 pessoas que ouviam viajaram por alguns minutos até o Pantanal. Eusébio falou:
- Meus sonhos se realizaram. Meu filho e a viagem ao Pantanal. Vi de perto o Pantanal com os olhos de meu filho.

Um comentário:

  1. Esta é uma das crônicas que mais gosto, tocante faz-me refletir no que temos, muito boa. Beijo te amo querido Deivison,
    tua esposa.

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