domingo, 8 de abril de 2012

O rosto do filho

Até que ponto um homem pode esconder seus sentimentos? Que esforços estaríamos dispostos a fazer para aliviar a dor de alguém?
Luciano senta-se pela primeira vez na cadeira de um desconhecido barbeiro e mais do que falar, expressa seus mais profundos sentimentos. Fala como se há anos conhecesse o homem com a tesoura e pente nas mãos. Aquele homem na cadeira parecia sentir o coração sangrar em vez de bater. Talvez ele apenas quisesse ouvir algo que o confortasse, ou quem sabe queria apenas ser ouvido, nada, além disso. A sua dor, pela empatia de quem ouvia fora pelo menos compartilhada.
Luciano era jovem, pouco mais de trinta anos, muito educado e bem empregado. Sua chegada nessa cidade não era pela felicidade, mas pela busca de esperanças. Da cidade de onde viera não ouvira boas notícias. A angústia de aceitar que os médicos estavam certos era demais para ele. Quisera que estivessem equivocados. Quem sabe aqui encontraria uma luz, uma esperança. Veio até aqui com a notícia de um filho morto. No ventre da esposa, grávida de sete meses, estava sua maior dúvida. Por toda a sua vida havia sonhado com o rosto de um filho. Haveria como os médicos estarem enganados? Poderia seu primeiro e tão esperado filho nascer com vida?
Aqui os médicos não deram falsas esperanças, mas haviam usado palavras diferentes. Seria apenas eufemismo? No fundo querem amenizar minha dor com palavras suaves? – Pensava Luciano. Deixando as lágrimas cair sem constrangimentos ele diz:
- Minha esposa não pode me ver nessa situação. Ela está esgotada desde que ouvimos o diagnóstico há três meses. Ela tem noites inacabadas, dias angustiantes, se me vir assim será pior. Saio com meu carro e paro num lugar qualquer e choro por horas e só então volto para casa com uma dor disfarçada de sorriso. Não sei se ela acredita. Não sei mais o que fazer. Perdoe meu desabafo. Obrigado por me ouvir.
Meses depois eles caminham juntos. Num agradável fim de tarde com os pés sendo tocados pelas ondas do mar Luciano ajoelha-se e beija a mão de sua esposa. Ele encosta seu ouvido na barriga da esposa e encontra ali uma nova esperança.

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