segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O lobisomem pinguço

Henrique chegou em sua borracharia e encontrou o Valdemar dormindo logo ao lado de sua porta. Valdemar vivia bêbado e dormia em qualquer canto. Não era um sujeito ruim, mas incomodava moradores e comerciantes do bairro pedindo dinheiro para a cachaça, ou ficava enchendo a paciência dos outros com seu papo-furado. Um dia Henrique teve uma ideia e disse a Valdemar que precisava falar um sério assunto com ele. Só não imaginou que ele levaria tão a sério. Henrique disse: - O Valdemar você que anda por aí a noite toda já viu o lobisomem? – Valdemar, com sua voz rouca e português enrolado, respondeu: - Que lombisomem que rapaz. Nunca vi lombisomem nenhum. - Sabe por que você nunca viu o lobisomem? Porque você é o lobisomem. - Eu não so lombisomem coisa nenhuma – Valdemar saiu indignado com Henrique. Uma hora depois Valdemar voltou com um cigarro na boca e perguntou ao borracheiro: - Me diz uma coisa. Ta vendo que eu to fumando. Lombisomem fuma? – Henrique argumentou: - Quando vira lobo não fuma, mas quando está como homem fuma sim. A prova está bem aqui na minha frente – E lá saiu Valdemar indignado mais uma vez. No final da tarde Valdemar voltou: - O Henrique, se lombisomem existe por que eu nunca vi? - Mas é claro Valdemar, você vira lobisomem e então não consegue se ver. - O Henrique. E se alguém quiser matar o lombisomem? - Aí você tem de se cuidar. Como se mata um lobisomem, Valdemar? - Ah, isso eu sei. É com uma bala de prata – respondeu Valdemar meio preocupado. Os comerciantes do bairro estranharam o sumiço de Valdemar. Quando aparecia era no final da manhã ou no início da tarde. À noite ninguém mais o via pelas ruas. Dias depois Valdemar apareceu na borracharia. Já havia tomado algumas pingas. Esperou até o último cliente sair e perguntou ao Henrique: - O Henrique sabe se tem alguém desconfiado de mim. Daquele assunto sabe né? - Não. Será que você tem andado muito por aí à noite? - Valdemar viu que não tinha ninguém por perto e disse: - Que nada rapaz. Consegui uma corrente e um cadeado. Amarro uma mão na outra e passo a corrente até o pé e fico quietinho. Deixo a chave meio longe e só solto de manhã rapaz. De repente tem um maluco por aí que tem uma bala de prata. Eu é que não vou me arrisca. Ó, não conta pra mais ninguém.

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