segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A mulher do barbeiro

Olivia já andava cansada com as contas atrasadas. Como assistente de uma dentista em Florianópolis ganhava pouco mais de mil reais por mês. O marido, Jaime, havia montado uma barbearia fazia quase um ano. Moravam nos fundos do terreno dos pais de Jaime. Quando precisavam de um carro, usavam o carro dos pais de Jaime. O movimento na barbearia não era de todo ruim, mas para sustentar a casa, nem pensar. Perto da barbearia de Jaime em Biguaçu, moravam Vânia e Carlos. Vânia era vendedora em uma loja também em Florianópolis. Carlos, estava desempregado. Certo dia Vânia e Carlos observaram um barbeiro da região que parecia prosperar rapidamente. O casal conversou, trocou ideias e tomaram uma decisão; Carlos montaria um negócio semelhante. Meses depois, Vânia fora a uma dentista. Os dentistas têm uma estranha mania de puxar assuntos com seus pacientes. O paciente ouve as perguntas, tem vontade de responder, mas com o sugador no canto da boca fica difícil, não dá pra conversar com dentistas, não nessas horas. Mas Vânia deu um jeitinho e falou: - Meu marido, o Carlos, acabou de montar seu próprio negócio. Agora ele é barbeiro. É uma ótima profissão, dá muito dinheiro. A dentista apenas concordou balançando a cabeça. A assistente ficou com vontade de desabafar sobre a barbearia de Jaime. Tinha vontade de dizer que ela é quem arcava com a maior parte das despesas, mas pensou, pra que desanimar a coitada? A Vânia continuou: - É sério gente. Lá perto de casa tem um rapaz que montou uma barbearia e em poucos meses já tem casa própria, tem um Uno Zero e está numa boa. Olivia não resistiu e perguntou mais detalhes sobre o local da tal barbearia. Vânia confirmou. Ela referia-se ao marido de Olivia, Jaime. Olivia não sabia se dizia a verdade, que demora até montar uma boa clientela, que ela é que assumia a maior parte das despesas da casa. Tinha pena da pobre Vânia, que mostrava-se tão otimista. Olivia não resistiu e falou: - Eu conheço o tal barbeiro! – Vânia, impressionada, perguntou: - Conhece ele de onde? – Olivia, respondeu: - É meu marido – Vânia ficou constrangida, sentiu um aperto no peito e disse: - Poxa, é mesmo? – Olivia desabafou: - Tomara que dê tudo certo, mas, o carro que dirigimos é dos meus sogros. A casa em que moramos fica nos fundos do terreno dos meus sogros. A principal renda da família é a minha, não a deu meu marido. Vânia ficou pasma. “Como cometemos tal engano?” Pensava ela. Ela lembrou que seu sogro também tinha um bom carro. Ela e Carlos moravam de aluguel, mas quem precisava saber? Pra todos os efeitos, a barbearia do Carlos estava indo muito bem. Pra que dar detalhes?

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