terça-feira, 26 de junho de 2012

Nem morto

João Carlos estava em dúvida – ou não ouvia bem, ou tinha mais gente louca no mundo do que ele imaginava, e ele estava incluído nessa lista. Na empresa onde trabalhava fora surpreendido por seu pai que estava de saída e lhe pediu um favor: - Ah, João, avise o Raimundo que a mãe dele morreu. João Carlos ficou perplexo. Como dar uma notícia dessas? Faltava uma hora para Raimundo voltar à empresa e deixar a maleta de ferramentas, era mecânico de elevadores. João não sabia como dar a tal notícia. Raimundo chegou cantando. João o cumprimentou e o seguiu até a sala dos mecânicos. Encheu-se de coragem e disse: - Raimundo. Tenho uma notícia nada boa. Tua mãe faleceu. Eu sinto muito. Raimundo, um homem de quase 50 anos e barrigudo começou a chorar. João chorava ao seu lado. No dia seguinte, assim que João chegou à empresa, perguntou por Raimundo. Disseram que ele já estava em algum prédio dando manutenção a elevadores. - Mas, e o velório da mãe dele? – Perguntou João: - Do que está falando, rapaz? – Perguntou o sócio de seu pai. A mãe de Raimundo não estava morta. Pelo menos não ainda. Seu pai entendera mal ao telefone. No telefone disseram que ela havia piorado muito e seu pai entendeu que ela havia morrido. O dia de João foi angustiante. Como encarar Raimundo no final do dia quando se encontrassem? O que dizer? No início da tarde a notícia foi certa. Sua mãe havia acabado de falecer. O sócio do pai de João deu a notícia a Raimundo. No dia anterior o pobre Raimundo havia chorado a morte de sua mãe e quando chegou ao hospital aos prantos seus irmãos não entenderam nada. Agora Raimundo tinha uma ponta de esperança de que poderia ser engano. Afinal de contas, aquele maluco do João havia se enganado no dia anterior. “Quem sabe hoje também seja alarme falso”, pensou Raimundo. Não era. Quando chegou calmo ao hospital os irmãos estavam aos prantos. Não entendiam a calma de Raimundo. Dois dias depois João Carlos e Raimundo se encontraram na empresa. João não tivera coragem de ir ao enterro. Não queria encontrar Raimundo. Agora estavam frente a frente. Raimundo olhou bem nos olhos de João e disse: - Lembra outro dia quando você disse que minha mãe tinha morrido? Ela estava viva. João falou: - Eu sei. Sinto muito pelo que disse e pela morte da tua mãe – Raimundo saiu sem dizer mais nada. João pensou que houve um lado bom dessa história. Raimundo acabou indo ao hospital aquela noite e teve a oportunidade de ver a mãe viva uma última vez. Claro que jamais diria isso a Raimundo. Pouco tempo depois disseram a João que o Manoel, um conhecido, havia morrido. João deu a notícia para algumas pessoas. Dias depois encontrou o mesmo Manoel quase em frente sua casa, mais vivo do que nunca. João torceu para que Manoel não ficasse sabendo que ele espalhara a notícia de sua morte que não acontecera, pelo menos não ainda. Outro dia disseram a João que seu Amaral havia morrido. Ele foi ao cemitério e entrou na casa mortuária. Lá estava seu Amaral, rodeado de amigos em lamento. João chegou perto da viúva para dar os pêsames, mas resolveu esperar o enterro. Só para ter certeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário