segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A arte de ficar quieto e a arte de falar

Dar os parabéns a uma mulher pensando que ela está grávida quando ela não está é constrangedor. Apontar um cara na rua e dizer: Que bicho feio! E só então ouvir alguém ao lado responder: É meu pai. Ou ouvir uma mãe dizer ao filho adolescente para ele colocar os óculos. O rapaz diz que o óculos o deixa muito feio. A mãe responde: Você é feio de qualquer jeito, coloque os óculos. A Sabedoria da Bíblia diz que a língua é um fogo. Linguagem metafórica. A arte de falar tanto encanta quanto espanta. Palavras levantam ou derrubam. Fazem com que um suicida desça da ponte ou pense em por que já não fez isso há muito tempo. Tudo depende de como se fala. Em “O poliglota” Humberto de Campos dá um belo exemplo disso. Nessa história Emílio Esteves estava numa roda de amigos quando chega outro companheiro trazendo um amigo seu. Ele o apresenta a todos na roda de amigos e ressalta: - Este é o fulano de tal. É nosso patrício e tem percorrido o mundo inteiro. Fala corretamente o inglês, o francês, o italiano, o espanhol, o alemão, além é claro, o nosso português. O rapaz sorria modesto diante tantos elogios que recebera. Falou ao longo de uma hora não mais que meia dúzia de palavras. Então se despediu e foi embora. - Que tal esse meu amigo? – Perguntou o rapaz que o havia apresentado: - Inteligentíssimo, e, sobretudo, muito criterioso- Respondeu Emílio Esteves. - Mas ele não falou quase nada – Argumentou um dos companheiros. Emílio explicou: - Pois, por isso mesmo. Vocês não acham que é talento e inteligência saber ficar calado em seis línguas diferentes? Seja em casa ou na barbearia. Na festa ou no funeral. Na briga ou na alegria, a arte de falar ou de ficar quieto pode evidenciar nossa inteligência. Saber usar bem o dom da fala é arte, pode ajudar e até salvar. No mais, é bom lembrar a antiga frase: Somos escravos de nossas palavras e senhores de nosso silêncio. De um jeito ou de outro todos os dias temos de usar essas artes. Falar ou ficar quietos.

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