segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um novo sorriso diante o oceano

Seu Olavo estava contente com sua nova dentadura. Iria à praia com um novo sorriso. Numa bela manhã de domingo partiram em direção a Palmas. Seu Olavo, a esposa, os três filhos, genro, noras, e netos. Antes de sair seu Olavo tirou e escovou a dentadura. Lavava-a com o mesmo capricho que limpava seu carro. Antes de chegarem à praia estacionaram os carros e lá do alto de Governador Celso Ramos avistaram o maravilhoso mar. Uma visão paradisíaca. Um azul absoluto. Chegando a praia começaram a curtir o que parecia que seria um belo dia. Seu Olavo convidou a turma para um mergulho. Disseram a ele que a água estava gelada, que iriam mais tarde. Seu Olavo levantou-se, ajeitou a sunga verde e foi em direção ao mar, sorrindo. A família apenas observava. Todos admiravam a coragem de seu Olavo em enfrentar a água gelada. Seu entusiasmo quase os levara a mergulhar juntos com ele. Seu Olavo entrou no mar e virou-se para a família. Olhou para eles como quem olha para o resultado das sementes que plantara por toda uma vida. O sorriso ocultava a emoção de um homem de 65 anos que sente que cumpriu uma importante missão. Ele voltou-se ao mar e mergulhou. A família inteira o observava. Segundos se passaram e todos passaram a estranhar a demora de seu Olavo. Admiravam como era boa sua capacidade de segurar a respiração em baixo da água. Mais a demora em seu retorno preocupou a família. Todos se levantaram. O que teria acontecido com seu Olavo? Mandaram Antônio entrar na água e procurar pelo sogro, algo de ruim devia ter acontecido. Quando todos já estavam em pânico pela demora de seu Olavo e Antônio a caminho do mar, eis que surge seu Olavo. Retornou das profundezas fazendo respirar em paz a família. Ele os olhou e sorriu. Eles não sorriram. Seu Olavo achou estranho não sorrirem. Ao levar a mão à boca notou que havia perdido sua dentadura durante o mergulho. Começa uma busca frenética. Eram mais de cinco pessoas mergulhando e procurando pela dentadura assim como quem procura um tesouro. Seu Olavo teve uma ideia. Por que não falar com um salva-vidas, quem sabe esse herói dos mares não possa ajudar? Encontraram um simpático salva-vidas. Ele riu e disse que é muito comum pessoas perderem dentaduras na praia. Trouxe uma bacia cheia delas e mostrou-as a família. Eles disseram que não era preciso. Seu Olavo discordou. Meteu a mão dentro da bacia e pegou uma das dentaduras. Todos acharam aquilo estranho. Seu Olavo colocou uma delas em sua boca. A família sentiu náuseas. Ele provou várias. Mexia os beiços, abria e fechava a boca, até que ficou satisfeito. A família insistia em dizer – que coisa nojenta - O salva-vidas disse que estava tudo bem. Quando foram embora seu Olavo pediu para encostarem no mesmo lugar onde pararam na ida. Todos saltaram e olharam para o mar. Seu Olavo colocou as mãos na cintura e abriu um belo sorriso. Deu novo sorriso diante ao oceano. Jamais voltaria pra casa de boca vazia.

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