quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Um pão para dois

Era uma terça-feira de inverno. Um homem que costumava dormir pelas ruas enfrentando frio e fome havia encontrado um serviço. Passava o dia inteiro espalhando barro por todo um grande terreno em preparação para uma obra. O tal homem havia encontrado uma parceira, talvez com necessidades parecidas. Juntos haviam alugado uma casa com duas peças e sem banheiro. Ao final daquela terça-feira ele guardou suas ferramentas e parou diante uma pequena lanchonete. O dono fazia as pressas os lanches. Um ovo fritava na chapa, o cheiro do bacon invadia a rua. O homem fixou seu olhar sobre a chapa, sobre os lanches ali preparados. Na modesta casa talvez o aguardasse um pedaço de pão, quem sabe arroz ou qualquer coisa que saciasse a fome dum trabalhador braçal. Quem observava a cena perguntou ao homem: - Quer um lanche? - Um tanto bruto ele devolveu a oferta: - Ta pagando? - O observador respondeu-lhe com calma: - Se estou oferecendo, é claro que pago. Escolha o que quiser. Por um instante o olhar do homem grande parecia o de uma criança a quem se pergunta se quer esse ou aquele brinquedo. Depois de instantes pediu um X-EGG. O observador se distraiu e logo viu o homem agradecendo e indo embora com o lanche na mão. Curioso, perguntou ao homem se não iria comer e pedir um refrigerante. O homem disse: - Não, não. Eu vou levar pra comer em casa com a minha mulher. Não como nada longe dela. Vou dividir com ela. O observador sentiu que falhou em sua avaliação. Não havia imaginado que aquele homem bruto, sofrido, tinha também um coração. Estava disposto mesmo na fome em dividir um pão para dois.

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