quinta-feira, 8 de abril de 2010

Susto ou alegria

Valdemar é um cara descrente, displicente e inconsciente de valores espirituais.
Mas um dia se viu obrigado à pela primeira vez passar sozinho à noite em frente ao cemitério de Barreiros. Tentava dizer a si mesmo que não tinha medo, mas não conseguia se convencer.
Finalmente viu um homem bem vestido andando lenta e tranquilamente.
O homem era um religioso, recém convertido a uma religião a qual lhe havia tirado o medo dos mortos e a fazê-lo sentir-se pertencendo a outro mundo, mas é claro o Valdemar não sabia disso.
Valdemar só estava aliviado por não ter de passar sozinho enfrente ao cemitério. Ele começa a caminhar ao lado do calado homem que vestido de paletó e gravata caminha tão calmo que parece estar quase dormindo.
Valdemar, surpreso com a calma do homem, pergunta:
-Desculpe amigo, mas, tu não tens medo, quero dizer medo dos mortos?
O homem, sonolento, diz olhando para frente;
-Quando pertencia a este mundo eu tinha. Hoje, não tenho mais.
Valdemar sente todos os órgãos internos e externos se movimentarem e corre muito.
No outro dia enquanto atravessa à rua ele é atropelado.
Quando acorda abre os olhos lentamente. Percebe aos poucos um lugar branco e silencioso. Ao olhar para o lado ainda fraco, vê um homem alto com barba e todo de branco. Valdemar acredita que morreu. Com esforço abre a boca e pergunta:
-Quem é o senhor?
O homem alto, de branco e com barba diz:
-Eu sou o Messias.
Valdemar sente lágrimas correrem por todo seu rosto. Passa a lembrar com carinho de toda a família, inclusive de sua finada sogra. Pensa que a encontrará.
Ele olha para o homem alto, de branco e barba e pergunta:
-Por que eu vim para cá?
-O senhor foi atropelado.
-Por favor, não me chame de senhor. Eu é que devo chamá-lo assim. Afinal de contas, vivia lhes criticando, apontando suas falhas. Achava que não se importavam com ninguém de verdade. Tenho sido um idiota por toda a vida, atrasado minhas contas, mentido, sou um tolo, me desculpe ter falado por tanto tempo com descrédito, sou tão tolo, me perdoe.
O homem alto, de branco e barba diz:
-Filho, não se preocupe, muitos criticam os nossos hospitais.
Alguém grita:
-Doutor Messias, doutor Messias, mais uma emergência.

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