sexta-feira, 2 de abril de 2010

Noites assustadoras

Nos anos cinqüenta em Florianópolis, seu Nelson trabalhava como construtor.
Um de seus projetos ficava mais ou menos perto do Rio Vermelho, lugar com muita vegetação e poucos moradores.
Seu Nelson, homem cético, ou seja, descrente e fazendo sempre questão de dizer que não cria em assombrações. Cerca de dez homens trabalhavam ali, e como era um lugar de difícil acesso, os trabalhadores armavam cabanas e passavam toda a semana no meio do mato.
O que intrigava os novos trabalhadores era saber que logo nas primeiras noites alguns homens ficavam tão assustados que preferiam logo pedir demissão e arrumar outro serviço.
Finalmente alguém se abre e diz que a noite enquanto nas cabanas podiam ouvir um choro de neném. O choro ora parecia distante, ora parecia aproximar-se, o que fez alguns até saírem à noite achando que havia alguma mãe com um bebê precisando de ajuda, e não viam nada.
José acreditava que era mentira até que logo na primeira noite, lá pelo começo da madrugada ouviu um bebê chorando. Parecia tão real, tão claro que achou que tinha neném na vizinhança, mas alguém ao lado disse:
-Meu Deus, então é verdade!
José levanta, sai da cabana e continua ouvindo o choro. É noite de lua crescente e pouca luminosidade. Ele fixa os olhos na vegetação alta e o choro continua, suas pernas trêmulas o conduzem cambaleando para a cabana, e adeus sono.
Seu Nelson no dia seguinte ri dos homens. José diz que ele não acharia engraçado caso dormisse ali. Seu Nelson suspira e diz que vai dormir, diz isso para acalmados, mas ouve um por um dizendo “to indo embora antes do anoitecer”.
Seu Nelson vê o sol se por sozinho no matagal e umas cabanas vazias. Janta, lava-se e prepara a cama improvisada.
São cerca de dez da noite quando o descrente seu Nelson, sonolento, ouve distante um choro de bebê. Primeiro pensa estar sonhando, mas o choro se intensifica. Seu Nelson pensa: “Não pode ser, não pode ser.”
Ele sai devagar e caminha em direção a mata, já é quase lua cheia está mais claro esta noite. Estende o braço direito empurrando os galhos de arvores, o choro não para.
O único barulho que ouve além do choro de neném e o barulho do mato quebrando-se embaixo dos pés. Ele continua cético até que, presta bem atenção ao bambuzal que há ali. Observa atentamente os bambus esfregando-se um no outro e fica evidente que é dali que vêm o som, o som idêntico ao de choro de neném.
Na manha seguinte alguns homens, inclusive o amedrontado José chegam e perguntam:
-E daí seu Nelson, tudo bem?
Seu Nelson que já está preparando alguma coisa para o almoço, diz:
-Perdão. Vocês tinham razão, ouvi a noite toda o choro de bebê, é verdade, é incrível.
Os homens se vão e seu Nelson gaba-se por nunca ter-lhes contado a verdade, a verdade do bambuzal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário