segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A fé nos gols

João Marcos é repórter há mais de dez anos. Nos últimos anos cobre partidas de futebol como repórter de campo. Tem lá suas dúvidas quando o assunto é religião. Acha tudo muito confuso. Certo domingo João Marcos fora escalado para cobrir um jogo em sua cidade. Depois de conversar com o narrador e outros colegas João vai até o vestiário onde pretende fazer algumas entrevistas. Assim que chega a porta ouve algo que lhe soa estranho. Aproxima-se e olha lá dentro. Conta pelo menos seis jogadores de mãos dadas rezando, ou orando. Pedem por gols, pedem por vitória. João Marcos não dado a fé admira-se com a confiança dos jogadores. Pensa em não atrapalhar. Vai rapidamente até o vestiário onde está o time adversário. Pensa em conseguir ali junto ao colega da mesma emissora alguma entrevista e logo voltaria ao primeiro vestiário, quem sabe a oração já tenha terminado. Bruno, o colega de João Marcos, assim que o vê, diz:
- Silêncio, João – João caminha bem devagar e espia dentro do vestiário. Vê uns três ou quatro jogadores rezando, ou orando. Aproxima o ouvido com cuidado para não atrapalhar e escuta pedidos ao Senhor. Tem haver com gols, tem haver com vitória. Primeiro João Marcos novamente surpreende-se com tamanha fé de tantos jogadores, depois passa a quebrar a cabeça. Lembra que os pedidos por gols e vitórias eram feitos a mesma pessoa em vestiários diferentes. A quem o Senhor ouviria? Pensava João.
A partida começa. Aos dezoito minutos do primeiro tempo gol para o time da casa. João Marcos pensa: É eles foram mesmo ouvidos pelo Senhor. Aos trinta e seis minutos ainda do primeiro tempo o time visitante marca seu primeiro gol. João põe a mão na cabeça, até atrapalha-se ao passar para o narrador detalhes sobre o gol. Ele volta a pensar: O Senhor ouviu também o outro time. No segundo tempo mais um gol para cada time. A partida termina empatada. João Marcos não gosta dessa expressão, empatada, acha-a grosseira.
Naquela noite João Marcos volta para casa pensando no que vira e ouvira nos vestiários. Os pedidos. Quem seria favorecido? Havia algum goleiro menos merecedor? Lembrou que até antes de lutas já vira pessoas rezando. Será isso que chamam de fé? Pensava o repórter João Marcos. O repórter pensa em fazer sua primeira oração ou talvez rezar, mas pensava em “o que pedir? O que dizer?” Achou melhor apenas agradecer, havia muito a agradecer. Ele tem dois filhos e na qualidade de pai se tivesse que um dia intervir por um de seus filhos qual ajudaria? Qual prejudicaria? Pensou que mesmo como pai imperfeito jamais favoreceria um filho em favor de outro, que dizer do Senhor? Pai e Filho “lá em cima” pensou ele, devem ter outras preocupações. Afinal de contas, a partida terminou empatada.

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