domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Rosalvo

Poucas figuras são tão incomuns como o Rosalvo. Complexado com o tamanho de seu nariz e com a infelicidade de viver em uma época em que bullying era coisa de outro mundo teve que se adaptar as circunstâncias. Talvez para sofrer menos chacotas dos amigos, ou sabe-se lá por que motivos adquiriu algumas maneiras estranhas. Ficou conhecido primeiro por concordar com todos, ou visto de outra maneira, nunca discordar de ninguém. Era assim. Se alguém dissesse perto dele: - O Figueirense não vai longe desse jeito. Está muito ruim! – Rosalvo respondia: - Pior que é. Não vai longe – Outra pessoa dizia: - Que nada. O Figueira está só no começo do campeonato. Está bem. – Rosalvo dizia: - É verdade. Ta só no começo está muito bom. Quando alguém dizia: - Este verão está mais quente que o verão passado – Rosalvo concordava: - Está mesmo! – Outro discordava: - Que nada. O verão passado foi bem mais quente. – Rosalvo dava sua opinião: - Sabe que é mesmo. O verão passado foi pior. Não importava a opinião, Rosalvo sempre concordava também com o último a opinar. Na vidraçaria em que trabalhava levava tudo ao pé da letra. Quando o patrão via alguns pregos no chão, dizia em tom de proposital exagero: - O Rosalvo, que isso, cem pregos jogados no chão. Que desperdício! Rosalvo abaixava-se, juntava três ou quatro pregos, levantava-se e indignado dizia: - Cem pregos? Isso aqui é cem pregos? To vendo três. Não sabe contar? Houve um dia em que os colegas quiseram aprontar uma com Rosalvo. Disseram a ele assim que entrou no carro: - Poxa Rosalvo. Este ano todos os feriados vão cair aos domingos. Todos! - Não pode ser – respondeu Rosalvo. Um dos colegas acrescentou: - Até a sexta-feira santa, Rosalvo, vai cair num domingo – Rosalvo perdeu a calma e disse em voz alta: - Que droga! Pobre é mesmo azarado. Eu ia viajar nesse feriado. Mas até sexta-feira santa no domingo. Que droga. No carro a caminho da casa em que trabalhariam aquele dia os colegas tentavam combinar um jeito de facilitar seu serviço. Acontece que era uma casa de três pisos, muitas portas e janelas e usariam centenas de filetes. Cortados em máquinas simples seria muito trabalhoso. Combinaram que tentariam convencer o dono da casa a usar massa colorida em vez de filetes. Já diante o dono da obra explicaram que filetes são bonitos, mas a massa colorida, ah, essa daria um tom especial as portas e janelas. Os vidraceiros torciam para que o homem aceitasse a proposta. Facilitaria muito seu serviço. O homem estava em dúvida. Os vidraceiros mostraram as cores possíveis. O homem se animou e para a alegria dos vidraceiros disse que apesar de achar filetes mais bonitos aceitaria a massa em vez dos filetes. Assim que o homem preparava-se para sair Rosalvo disse em alto e bom tom: - A massa vai deixar muito bonito, mas filete é filete, não tem igual. O homem voltou-se para os vidraceiros e disse: - Fim de conversa, quero filetes! Burro, estúpido, tanso. Foram alguns dos adjetivos usados para o pobre Rosalvo que só fez concordar sempre com o último.

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